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Showing posts from 2015

síndrome do coração fantasma

Momento segredinho aqui pra vocês, que eu acho que é legal compartilhar esses sentimentos leves e tranquilos: desde que meu pai morreu parece que eu não sinto mais dor. Eu disse, é coisa leve. Papo de boteco. Mas é mais ou menos isso que eu tô passando. Existe uma dor que é física, de doer mesmo, que você sente e não tem habilidade de fazer parar. Desesperador. Nem tô falando de dor de bater o dedinho na quina do armário. É saudade, tristeza, essas coisas. Essas coisas doem mesmo, fisicamente. E é exatamente essa dor que eu não sinto. Porque tem a outra, a dor social, a dor que é consciente, uma resposta consciente a uma situação determinada. Essa dor eu ainda sinto porque minha racionalidade não foi afetada pela tragédia. Então, quando uma coisa que deve causar dor acontece, eu respondo a ela conscientemente com dor, mas uma dor que não dói. E vocês não sabem (eu espero) o quão dolorido é isso. Saber que você está triste, abatida, chateada, em luto... mas que você consegue fazer pa

o amor me pegou

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Queria falar de amor. Mas não exatamente do meu amor, que eu sinto e que eu recebo. Queria falar do amor que eu vejo, que eu assisto todo dia. Queria contar pra vocês como é a sensação de perceber e testemunhar o nascimento e o florescimento do mais nobre dos sentimentos. Queria falar, inclusive, que o mais nobre dos sentimentos é o amor.  Queria misturar com Freud, amor e Freud. Mas não exatamente com o que o Freud dizia do amor, porque eu sei lá muito bem explicar isso aí. Queria falar de identificação, que eu aprendi como sendo a dor que eu sinto aqui só de ver a dor que tinha aí, porque o aqui e o aí são todos aqui. A identificação - underated nesse mundo que pira nas polêmicas do Sig - explica o amor fazendo bem também até pra quem não é o amor d' O amor . O amor que explode aí cai aqui, cai em todo mundo. Gera mais amor de volta pro amor. Queria falar sobre sentir o amor, sobre a beleza inebriante de estar na presença do amor. Queria falar da felicidade indescritível que

não penso, logo

Você gostou que o Cunha aceitou o pedido do impeachment, você não aguenta mais a Dilma . Você não pensa que isso é uma manobra dele para adiar a própria investigação. Você não pensa que de todos os quase 8 bilhões de pessoas do mundo, o Cunha é o último apto a julgar alguma improbidade. Você não pensa que o impeachment machucaria a democracia de forma irremediável. Você não pensa.  Você acha que o prefeito é um babaca que fica pintando a rua de vermelho pra ninguém usar bicicleta. Você não pensa que a malha cicloviária vem antes da galinha. Você não pensa que o transporte é um direito e o carro é um privilégio. Você não pensa que as ruas foram feitas para todos. Você não pensa em como estará o trânsito e a poluição do ar daqui 15 anos se nada for feito. Você não pensa. Você não tem opinião sobre as escolas ocupadas porque seu filho estuda no Dante. Você não pensa que paga mais de 3 mil reais por mês por causa da precarização do ensino público e que deveria estar também preocupado

head of a naked guy

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eu nem sabia admirar arte antes de ter aula de história da arte na cásper. aprendi a amar o Botticelli, o Rafael e as tartaruga ninja tudo. mas nunca uma obra me tocou dentro do coração tão forte quanto essa. não sei explicar. pra mim isso é um cara (chama head of a naked girl - inexplicável) e a expressão dele é um misto de cansaço, mas com resiliência. ele tá concentrado em arrumar seja lá qual for a cagada que a vida aprontou, tá tomando ar... ao mesmo tempo que tem ciência de que tá com bosta até o joelho. é mais ou menos um retrato da minha alma, na maior parte do tempo. porra lucian, tu é bem neto do teu vô mesmo. ô família pra foder com a minha mente!

o sonho com a rihanna

sonhei umas paradas estranhas e meu gato tinha morrido aí eu acordei chorando, depois vi que era sonho. ufa. dormi. sonhei que eu ia embarcar e ficar só uma semana, e aí eu queria convencer shoreside a me deixar embarcar uma semana por mês, daí eu não ia precisar trancar a faculdade e nem estourar em falta; usei o argumento que eu manjo muito dos 7 services guidelines e poderia ser training coordinator :) depois sonhei que eu tava no carrefour com a Rihanna. e eu cantei Price Tag com ela (a gente sabe que era cover da Jessie J) e daí a gente foi procurar um presente pra .... que era aniversário dela (não sei quem). na festa dela estava o thomás com uma namorada feia e mais um pessoalzinho. daí a Riahanna pediu pra eu chamar a ... pra ela dar o presente. primeiro a gente foi pedir pra moça do carrefour embrulhar o presente, aí ela perguntou se era nossa primeira vez em las vegas. Riri disse que sim, louca. daí a mulher que embrulhou o presente foi lá e entregou pra ... e a Riri não

motherfucking karma

Ain't karma a bitch? Don't you hate it when she comes back to bite you right in the ass? Isn't it awful to realise that the spit is much more digusting on its way back to your face? I bet it is. I bet you hate it. But boy, let me tell you: I love it! I love to see you desperately looking for reasons to blame me for the horrible things you know we are all capable of - you know it because you're capable of it too. You know it because you're doing it to me at this very moment. The monster you insist that I have inside of me is actually inside of you. You know that too by now - and it just kills you. You can't accept it and I can't stop laughing. I find pleasure on your doubts because you know that I know, but do I know for sure? Are you sure? You can't be unless you ask me and why don't you ask me?  Your guilt is eating you alive. Your guilt is my glory. Karma is really a bitch.

Sempre que choveu, parou.

Sempre que choveu, parou. Mas a caminhada na chuva fria é solitária e angustiante, ainda que eu esteja acompanhada por outros ao meu lado, ainda que eu tenha a certeza de estar caminhando para um futuro mais quente e mais seco. Ainda assim, ninguém pode saber o que eu sinto quando molha a minha meia, você teria que walk a mile on my shoes, nos meus shoes molhados que apertam calos que só eu sei onde estão, porquê estão. Você não tem como saber, então não tente. Não julgue. Não fode. Porque sempre que choveu, parou. Mas enquanto a chuva não para, meu céu é escuro e meu medo é só meu Um medo do qual não dá pra fugir, que não se vence racionalmente. A chuva não se vence racionalmente, a gente espera parar. E vai parar. Porque sempre que choveu, parou.

It only takes one match

You shall have my heart, with all its warmth and kindness, for as long as you may. You shall have my hand, my reliable strength, to fight for you as many times as you need. You shall have my shoulder, my ears and my soul, to help get yours healed, whenever it needs to be healed. You shall have my friendship and my unconditional love, you shall have my eyes staring at yours everytime you feel alone, so you won't ever forget that I am here for you. So you won't ever forget that I love you. But fuck with me once.

diálogo sobre o silêncio

- Escreve. - Eu não consigo. - Tenta! - Não, sério, eu tentei já, não vai. - Mas qual é o problema? Tá sem assunto? - Há! Não! Acho que nunca tive tanto assunto na vida. - Então escreve, ué. Como se você tivesse me contando o que tá acontecendo, você sempre fez isso. - Eu sei, mas acho que dessa vez é diferente. Não sei... - Sobre o que você escreveria? - Sobre mim. - Uau. E as novidade? - Não então, mas ia ser uma parada mais profunda sabe?  - Papai? - Não. - Nunca, né? - Não. - Pensou num título? De repente ajuda. - Alguma coisa com silêncio, não sei. - Silêncio? Você? - Pois é. - Que silêncio? Como assim? - Eu queria ficar silêncio. - QUÊ? - É sério, eu queria ficar sem falar. Sem falar nada, tipo um mês sem falar. - Pra quê? - Porque eu tô sendo obrigada a falar agora. Eu odeio ser obrigada. - Quem tá te obrigando a falar? - A vida, o mundo, a sociedade, tudo. Tudo me obriga a falar e eu queria ficar em silêncio. - Tipo isolada

não entendir

Na vida eu sempre me contentei com o oito ou sete, mas se a média fosse seis, tava bom seis também. Aprendi a ler lá pros meios da primeira série, enquanto a japonesada já fazia equação de segundo grau. Demorou, mas eu entendi o negócio das letras juntando e formando sílabas e tal. E, quando chegou a hora, também entendi o x² mais y² mais nunseioquelá. Entendi as matemáticas, as histórias, as geografias. Entendi coisas de poesia, de arte, de alquimia. Entendi mesmo. Entendi que a vida não pára pra gente pensar, entendi que as escolhas que a gente faz nunca são pra sempre, e aí eu entendi a hora de mudar. Entendi como funcionam crianças e photoshops, entendi como faz pipa, beck, estrelinha com papel de halls. Entendi os esquemas de dirigir e de falar inglês, entendi como passa camisa. Sabe que dentro das minhas limitações intelectuais, eu até que entendi um monte de coisa difícil. Pouca gente entende por que morre pai, por que morre tia, por que fica doente. Pouca gente supera a do

timehop caraliando

Li a mim mesma de quatro anos atrás. Primeiro que achei que fossem 3 só, numa mistura de ser de humanas e não acreditar na velocidade do tempo que fez 2011 ser há 4 anos. E daí que foram 4 anos que a princípio pareciam não ter me servido de nada. Eu me li em 2011 o que eu poderia ter escrito ontem, falando de amor livre, falando da felicidade altruísta de ver o cara feliz, mesmo que não do meu lado. O objeto é o mesmo, inclusive. Os alvos também, todos. E aí você pode pensar, como eu também pensei, que a taxa de aprendizagem aqui é very lentinha. Só que é amor, né gente? Não é uma banalidadezinha efêmera, não é a melhor coisa dos últimos tempos da última semana. É amor. E eu teria ficado decepcionada com a minha incapacidade de diferenciar uma coisa da outra se hoje eu nem soubesse mais o porquê daquelas palavras. Mas era amor em 2011, ainda é amor em 2015, sempre será amor. Seu contexto inteiro mudou, o meu também. E eu continuo feliz por te ver feliz, mesmo que seu feliz seja tão

the fofura of being troxa

You're a blessing in disguise, and you're disguised as a crazy person. I could stop writing right now because basically that's what I wanted to say. You're crazy. Seriously, there should be a contest of best disguise for a blessing, you'd win. You're batshit crazy. And you drive me crazy sometimes. I really don't understand why I can't simply tell you to fuck off and do whatever the fucking crazy shit you want to do. I don't know why I'm always worried about you, why do I care so much. But then again, we never really know the meaning of anything until we get to the end. And the end usually means death, so I'm guessing neither of us are in a hurry to fully understand the complexity of this, whatever this is, this strange feeling of companionship that we share. Well then, the good news is I have decided to embrace it, to just go with this maternal instinct that appeared out of nowhere, and to take care of you without expecting you to do an

para ver a ilha

Historicamente a gente não é acostumado a pensar. Esse fato isolado já poderia te dar uma noção do tanto que você tá errado sobre tudo, mas vou continuar. Porque não é sua culpa que você não pensa. Você foi criado para ser peão, no sentido xadrezístico da palavra. Eu também fui, todo mundo que eu conheço foi. Lembro que quando eu fiz cursinho pro colégio técnico, lá longe na oitava série, começava a dar um sono incontrolável na aula. A gente achava que era porque a gente acordava cedo, mas não. Nosso professor sempre falava que era porque a gente não estava acostumado a pensar. No final do ano ninguém mais tinha sono. No seu caso, ainda tem o agravante da mídia. A mídia me prejudicou também, mas eu tive acesso à internet muito cedo na vida. Você não. Você assistiu muito jornal nacional, leu muita veja, muito estadão. Você não tinha opção. Por isso eu digo, mais uma vez: não é sua culpa. Você é burro, mas não é sua culpa. Só que eu estou aqui pra informar que, infelizmente, a parti

The One With The Flashback

Assisti aquele episódio de Friends que a Janice pergunta quem já tinha se pegado entre os seis, daí eles falam que ninguém, daí ela pergunta quem quase e aí é um episódio de flashback que mostra umas combinações meio bizarras deles quase se pegando e começando a se conhecer. Adoro esse episódio. É uma puta bagunça, porque a gente já sabe como as coisas terminam mas no flashback eles não sabem. E é doido isso, a gente está constantemente nesse episódio do flashback. As coisas que parecem naturais, que fazem super sentido hoje, vão parecer absurdas e inimaginávies na próxima temporada. E às vezes basta um capítulo para mudar toda a história, basta um acontecimento para transformar tudo o que passou em passado mesmo. A significâncias vão mudando e praticamente tudo que a gente acha que vai acontecer, acontece diferente. Ou mesmo que o final seja aquele que todo mundo já sabia que seria, mesmo que a gente já tivesse certeza que o Ross ia ficar com a Rachel, nada aconteceu do jeito e no te

O Efeito Spadini

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Todas as vezes que eu assisto um show dela, faço o mesmo joguinho mental. Observo o rosto das pessoas que estão lá pela primeira vez, que ainda não conheciam a Natália. Ela entra no palco, com aquela carinha de criança, sempre sorrindo, e é como se eu conseguisse ler o pensamento daquelas pessoas. Mesmo entre os mais otimistas, nunca uma pessoa esperava ouvir o que ouve quando a menina começa a cantar. Sei muito bem disso porque a primeira vez que ouvi a Natália cantar, passei pelo mesmo choque. Era um show em homenagem à Elis Regina, considerada a maior cantora brasileira de todos os tempos, a voz mais especial, o maior talento de todos. Algumas músicas já haviam sido interpretadas lindamente por outras cantoras maravilhosas naquele show, até que a inconfundível introdução de Fascinação começou a tocar. Quando a Natália entrou no palco durante as notas de abertura daquela canção, cometi o mesmo pecado de não acreditar nem por um segundo que aquela menininha daria conta do rec

sobre a balada mais top

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Resolvi postar essa foto pra contar pra vocês sobre essa balada. Porque eu sempre coloco fotos das baladas, né? Mas dessa aí eu nunca coloquei. Essa balada era de segunda à sexta, em período integral. Pra chegar nela a gente acordava cedo e passava o dia inteiro lá. Às segundas e terças, saía dessa balada e ainda ia pra outra, a da bateria, onde eu superei dificuldades motoras que eu achei que eram impossíveis de se superar. Chegava em casa tarde, cansada, passava o dia fora. De vez em quando ainda tinha tradução pra fazer (graças ao bom Deus!!!), além de trabalho, textinho, relatório, resenha, escrito, coisas pra ler. E repare não só nas notas, mas na frequência também. Nenhuma falta, nenhuminha. Nessa balada eu aprendi muito mais do que eu esperava aprender, conheci professores incríveis - aliás, foi a primeira vez que eu tive um corpo docente inteiro incrível, com alguns destaques especiais no meu coração. Inclusive, de vez em quando os professores tinham 18 ou 19 aninhos, e

mais amor na base do tapa

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Dia desses o cara me fechou na Raposo, daquelas fechadas que a gente fica com vontade de arrancar a cabeça da pessoa com os dentes. Tinha um adesivinho no carro dele. Aquele do gentileza gera gentileza , com as setinhas e tal, sabe? Eu nem cheguei a ficar brava com o cara, tamanho o simbolismo daquele momento. Foi até engraçado. A vida tem sido essa fechada do gentileza gera gentileza em loop infinito. As palavras e os sentimentos mais nobres permeiam o dia-a-dia escrito, o virtual. Nunca se viu tanto amor como se vê agora, estampado para quem quiser ler. O que eu, particularmente, considero uma coisa sensacional. Você achou que eu ia criticar as pessoas que amam no facebook e traem a namorada três vezes ao dia, né? Você com certeza achou que era esse tipo de post. Mas não é. Você pode sentir diferentes coisas em diferentes momentos e depois mudar de ideia sobre tudo. Ninguém tem esse caráter reto que acha que tem, todo mundo é meio doido e sentimento é uma parada meio conf

magrela

Como eu poderia saber, magrela, da sua importância sublime pra mim? Quem diria que você não era só minha parça de manter o peso, quem diria que você não era só meu não-pagar-busão, quem diria que você era mais que estacionar em qualquer canto? Eu não sabia. Não sabia do tamanho do pedaço de mim que aquele moço levou, bem maior que o celular. Todo mundo fala que bom que foi só bem material mas o moço me levou a segurança de estar com você, me deixou sob ameaça constante de te perder. Então eu já deveria saber. Só pelo tamanho da ameaça, só pela sombra. Eu deveria imaginar. Mas hoje eu entendi, magrela, que eu preciso mais de você do que eu pensava. Ficar sem você me faz pior. A gente não pode se separar não, eu preciso estar com você apesar do medo. Até porque o medo é uma besteira, nada é pra sempre mesmo, né? Melhor que  a gente curta essa parceria mágica que me faz tão bem, mesmo que isso signifique que eu tenha que evitar umas ruas escuras de vez em quando. Faz parte.

você é cúmplice

Sabe por que o mundo tá uma bosta? Porque você deixa! Você deixa a merda circular, você permite que as paredes desabem do seu lado, você é cúmplice. A mão que ergue a faca não é a sua, o dedo que puxa o gatilho não é o seu mas você é cúmplice, você deixou acontecer. O próprio conceito de herói é cretino, ainda mais se considerarmos o adendo do filósofo Falcão que diz que herói é o cabra que não teve tempo de correr . Herói é um cara que fez o mínimo, fez o que todo mundo deveria ter feito. Fez o que você deveria ter feito mas você é um merda, você se calou, você sempre se cala. Foge à minha compreensão como você consegue dormir a noite. Sério. Repense.

bem-me-quer, vá-se-foder

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Eu poderia citar Heráclito, com a coisa do rio, ou Locke, com o lance da tábula rasa. A ideia de que a gente está em constante transformação não é nova nem original. Ainda assim, é uma das coisas mais difíceis de se compreender e de se aceitar. Porque somos negativos por natureza, o pessimismo é uma condição default, que eu já não sei se é assim mesmo ou se é influência do meio. Aliás, dá pra se perguntar se a coisa é assim ou se é influência do meio quando falamos sobre toda e qualquer característica humana. E animal. E vegetal. Ou seja. Que seja, o pessimismo paira sobre as nossas cabeças que nem um fantasminha gelado e te digo que tanto é assim que tem gente que vai no Centro e pede pra gente tirar o fantasma. Muita gente pede pra tirar coisa no Centro que são coisas da própria pessoa. Acho que é mais fácil atribuir o mal a uma fonte exógena, né? É mais fácil ter encosto do que ter responsabilidade. Daí o texto tomou um rumo diferente do que eu queria. Porque o que eu queria mesm

a dor e a delícia

Você não vai me ver chorando, nem lamentando do quanto dói. Você não vai saber do sono, do esforço, da angústia, das dúvidas. Você não faz ideia do medo. Você talvez me ouça reclamar, mas nunca saberá o quão profundo é o que sinto, perto da superficialidade de um comentário banal. É banal todo o lado ruim que você vê em mim, não é de longe o verdadeiro. Você não sabe caminhar com os meus pés. Você não sabe onde meu calo aperta. Você tem de mim o melhor de mim. Você tem o meu sorriso e o meu amor. Você tem a minha graça, a minha leveza, o meu otimismo. Você vai me ver rindo, bebendo e parecendo voar. Porque das obrigatórias eu não falo, mas ser feliz é a optativa que eu fiz questão de cursar.  Você, por isso, talvez não me entenda. E me julgue. E se se julgue no direito de me mostrar quem eu sou e quem eu deveria ser. Só que essa distância entre mim não existe, eu estou exatamente onde deveria estar. Você é que talvez tenha se perdido no seu caminho, por isso não consegue me achar.

o Alaska

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Quando eu descobri que eu ia para o Alaska, eu não quis. Não era bem uma questão de opção, eu não escolho o itinerário do navio. Mas tentei sair daquele que ia para o Alaska. Pelos motivos mais babacas, inclusive. Eu já fui muito babaca. Hoje sou menos. Mas na época a babaquice era que eu não queria ir porque eu não gostava de frio. Veja se tem cabimento não querer conhecer um dos lugares mais inabitados do planeta, dos mais incríveis, porque aqui em São Paulo o frio me incomodava. Acabei indo. Tinha medo de que ficasse frio dentro do navio, tinha medo de iceberg. E iceberg foi justamente a primeira coisa que eu vi no Alaska. Olhando meio que sem querer pela janela, passa aquele monstro branco bem do meu lado. Pirei. E quando a gente chegou na geleira de Tracy Arm, depois de passar por mais uma cacetada de icebergs, estava no meu schedule subir com as crianças para a área externa, onde eles iriam brincar ao ar livre e observar a paisagem.  Nada nesse mundo poderia ter me preparado

every so often

Countless times have I wrote here about the countless times you made me realize that I'm stuck on a cicle that goes round and round and drives me right back at you, countless times. Still, I am here today to talk about it. Life usually goes on, that's how it starts. Everything changes to the point that I can't even see you anymore. Other boys come around, boys that I can see myself with, spending the weekend on the beach, just us. That kind of thought that made me realise I was in love with you in the first place. So that's good, I think. That's all I need. Nonetheless, they're nothing but you. Bits and pieces of you, containing you, reminding me of you. Which is fine, probably. Knowing that I'm never gonna stop loving you may be the reason why I need to see you in them, why I look for you in them. How can this be healthy is beyond me. But it is what it is. Well then, I'm over you. Or so it seems. And then this small thing happens, this word that

Diário dos Sonhos

Primeira parte: Da primeira parte eu lembro pouco. Lembro que estava no navio e a gente tinha acabado de enfrentar uma puta tempestade e no dia seguinte eu vi no deck externo que algumas pessoas meio que moravam alí, montavam barracas e tal. Primeiro eu achei muito legal, depois eu fiquei pensando em como eles sobreviviam às tempestades... porque não é possível! Depois, dentro do navio ainda ou já no Alasca, não sei, tinha uma senhora vendendo umas pedras que a gente podia pintar por cima e depois ela fazia chaveiro com aquilo. A Nurse tava quase terminando o dela, que era enorme. Antes de eu começar o meu, a gente perguntou o preço. Variava de acordo com o tamanho da pedra mas era mais ou menos 500 reais. Achei absurdo, não quis fazer. Minha mãe achou de boas, daria pra pagar. Mas eu não quis mesmo assim. Chegando em Skagway ou Ketchican no Alasca, falei pra minha mãe que queria comer o crepe de chocolate que eu sempre comia na loja x, que era só subir a rua. Ela ficou com preg

o carrossel dos troxa

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O mundo é um carrossel onde as pessoas são cavalas que gostam de maçã. Elas sobem e descem - a gente sobe e desce (eu também sou pessoa) e vai girando que nem troxa. O mundo é um lugar de gente troxa e ser troxa as vezes me enjoa. The carousel never stops turning, you can't get off , já diria Ellis Grey. You can't get off do movimento troxificante, por isso we are so troxa. I am very troxa. Mas ainda que, de vez em quando, eu consigo fazer a mágica louca de enxergar o carrossel girando como quem olha de fora, e vejo minha cara-cavala passando vertiginosamente pelo mesmo lugar que eu já passei algumas vezes. A coisa muda, na vida, mas está sempre girando em torno de um eixo. Então é inevitável que a gente sempre passe pelo mesmo lugar, de quando em quando.  Aí que eu estou passando por um lugar que eu já conheço, muito parecido com um outro lugar onde eu vivi com a maior intensidade de todas. Eu estou em um contexto muito quase igual àquele outro contexto tão importante e m

por que eu nunca mais escrevi?

Não sei, cara, acho que eu legitimamente não tenho tempo. Fazia muito tempo que minha vida não se encontrava em uma configuração onde eu realmente não tenho tempo. Tenho brechas na semana, que eu uso para estudar ou, quase sempre, ir à praia, Mas ninguém acho que tem tempo para escrever, não mais do que a gente tem tempo pra escovar os dentes. Não é isso. Deve ser falta do que falar, o que também não soa legal. Porque eu tô o dia inteiro opinando, julgando, mudando de ideia sobre tudo. Ando vivendo várias coisas legais que seriam ótimas de se contar naquele esquema de crônicas do dia-a-dia. Só que sei lá, ando produzindo coisas pequenas que viram posts no facebook. Não consigo mais pensar em mais de dois parágrafos. Emburreci. Então é isso. Se você achava que ia ter uma reviravolta de esperança nesse texto, eu também achava. Mas não, é isso mesmo.  Acho que aceito sugestões de como sarar dessa crise. Aceito sugestões de temas. Aceito dinheiro também.

uma linha de pensamento pensante

Essa coisa da cota é foda. Porque quando falam que a desvantagem do negro é consequência da escravidão, você acha que é besteira, que a escravidão foi há muito tempo. Mas pensa aí, ela acabou há 126 anos... eu e você poderíamos ser bisnetos de escravos. Ou dos senhores da fazenda. Se meu bisavô fosse um senhor de fazenda, ele com certeza deu a melhor educação para o meu avô, que deve ter estudado na europa ou sei lá. E o seu bisavô, escravo? Abriram os portões da fazenda e aí? Ele nasceu no cativeiro, não conhecia outra vida. Talvez ele tenha continuado lá, muitos senhores de escravos eram gente boa. É interessante pensar nisso né? Existiam pessoas boas que compactuavam com a escravidão. Porque a escravidão era uma coisa que existia, que era aprendida. E as pessoas, mesmo boas, compactuavam com aquilo porque as coisas eram assim naquela época. Não era maldade individual. Ninguém é totalmente ruim. Mas aí um dia alguém chegou e falou "Não pode escravizar!" e com certeza os pr

how awesome is it to have a baby?

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I mean, think about it. It starts with the fact that he looks like you guys. Like, bits of you and bits of him, matching amazingly on a new look, a new person. He's a brand new person! That you made! He'll be born with some traces of your personality but you can't really know which ones until you meet him. He'll do stuff you used to do but when? In which situation? How exciting is it to know you'll be there to find out? And you'll watch this tiny person learn about each single thing. Everything will be new to him, imagine how awesome this must feel: everything he sees or does will be his first. And you'll be his reference, you'll teach and learn from his innocence. The course of this new life depends exclusively on you and how you'll guide your baby. And soon enough, he'll be doing stuff of his own, creating new things from the knowledge you gave him. You'll provide him the grounds and roots that he needs to grow and be himself. No

a Amandização da vida

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Das poucas coisas que são consenso nesse país, acho que todos concordamos que a Amanda é muito irritante, né? A Amanda do Big Brother, eu digo. E mesmo que você não conheça a Amanda do Big Brother porque você é inteligente demais para assistir Big Brother para de ser pau no cu, vai? a não ser que você só não goste mesmo, daí tudo bem eu vou te explicar a situação e você vai perceber que conhece uma Amanda na vida: essa Amanda entrou na casa e quis pegar o Fernando (com razão, deusabençoa) mas o Fernando não quis ela, quis a Aline e agora eles são um casal de boa e DESDE ENTÃO A MERDA DA AMANDA ESTÁ RESSENTIDINHA NA CASA FALANDO MAL RECALCADA INCONFORMADA SOFRÊNCIA OLHEIRA E ESSAS COISAS. Putaqueopariu, né? O cara não te quis, véi! Segue em frente! Ninguém em sã consciência acha realmente que essa atitude coitadinha vitimizada dela vai fazer o Fernando voltar atrás. E todo mundo concorda que ela poderia estar recuperada, se divertindo e correndo atrás de outras pirocas availables na

de repente 26

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Quando eu era pequena e magra, meu irmão, no auge do que hoje conhecemos por recalque, nascido e alimentado pelo fato de ele estudar e eu assistir Malhação comendo Trakinas todo dia, dizia que um dia eu ia acordar gorda. Do nada. E com os olhos castanhos. O medo da concretização dessa profecia me seguiu para a vida inteira. E segue ainda, se você quer saber, porque um dia eu acordei gorda (alô cortisona!) e agora checo no espelho todo dia de manhã pra ver se meus olhos ainda são verdes. A vida numa família de macumbeiros é de uma estranheza sem limites. Daí que esse medinho foi se estendendo a outros fatores da vida, como por exemplo ir dormir e acordar velha. E você já passou por isso, que eu sei. Você já fez alguma coisa na vida e pensou caraca, cresci. Eu pensei nisso quando comi bolo de outra coisa que não chocolate e gostei. Pensei nisso quando não entendi uma gíria. Pensei nisso todas as vezes que eu troquei balada por netflix. A coisa acontece assim mesmo, de repente. A vid

that thing you said

It's not like I was paying any attention at all but somehow I could tell the exact moment when everything shifted. It felt like a small breeze caressing my skin softly, like getting punched in the face with an axe made of acid on fire. So subtle. I didn't hurt tho, nothing does anymore. I have years ahead of me of psychologic treatment to take off those mattresses life carefully posted around me, to shield all them feelings away. They beat the sin out of me on a daily basis, but I only get a memo. I don't feel a thing. I don't believe this is healthy, either. 

ah, o cidadão de bem!

- QUERO JUSTIÇA!, diz a mulher do empresário que levou um tiro em uma tentativa de assalto. Ele passa bem, graças a Deus e ao Sírio Libanês, para onde foi levado às pressas e operado pelos melhores cirurgiões do país. A moça tem razão em querer justiça. O marginalzinho deveria levar um tiro também, pelo menos. Pra ver se assim acabava com essa violência no Brasil. Só queria saber da moça onde estavam os pedidos de justiça quando o marido nasceu na maternidade Santa Joana, num parto humanizado e assistido pelos parentes e amigos, que trouxeram presentes e amor para o recém-chegado. E o marginalzinho sobreviveu à gravidez de uma mãe que fumava crack, num hospital público ou no meio da rua, onde também passou a maior parte da infância e adolescência. Diferente do cidadão de bem, que brincou no parquinho do prédio e foi seis vezes pra Disney conhecer o Tio Patinhas, que era seu maior ídolo. Tio Patinhas também era o nome do traficante que começou a dar dinheiro pro marginalzinho lev

to je suis or not to je suis

Je ne suis pas Charlie. Je fiquei triste pelo que aconteceu, je não acho que nada justifica uma morte, nem duas, nem doze. Je não acho que ninguém merecia o que aconteceu e que foi, de fato, uma tragédia.  Mas je ne suis pas Charlie, não mais do que je suis crianças paquistanesas, civis palestinos e israelenses, vítimas do tráfico no Brasil. Je me preocupo com todas essas questões mas je não acho que o que aconteceu em Paris foi mais importante. Cinco horas antes do atentado em Paris, um carro bomba explodiu e matou 30 pessoas do Yemen. Je não vi nenhuma hashtag sobre isso. Je também não entendo o que aconteceu como um atentado à liberdade de expressão. Seria o caso se fosse um jornal Iraniano, por exemplo, ou de qualquer país de maioria muçulmana. E nesses países, o que a gente considera liberdade de nada é muito livre. Em Paris, uma charge zuando o Islã não é uma crítica, é uma zuera. Não chama crítica quando a coisa não tem nada a ver com você, não chama crítica quando o alv

a polarização de tudo

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As coisas existem.  Eu poderia parar por aqui, seria muito mais genial. Mas vou explicar essa frase mind blowing: As coisas existem, já existem, meio que sempre existiram. Meio , porque né, início da humanidade, evolução, adão e eva, tal e pans. Sempre existiram desde que as civilizações existem, pra ficar mais tangente. E também não são coisas físicas tipo sabonete ou pau de selfie. Essas coisas foram sendo criadas e cada dia tem mais coisa, mas cada dia também morrem coisas então cada dia tem mais e menos coisas. Só que as coisas que eu me refiro são as coisas da vida, sentimentos, fenômenos psicossociais.  E elas já existem, mas vão sendo catalisadas por determinados acontecimentos sociológicos e, por isso, parece que antes não tinha gay nem homofobia, depois tinha, depois lutou-se contra, agora tem heterofobia [sic]. Sabe assim? Papo de avô que no meu tempo não tinha sei lá o que. FUN FACT: é real, meu avô disse que no tempo dele a estrada de são paulo à ubatuba

Black Lives Matter More Than Yours

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Tem nem dois anos que eu percebi que eu tenho TPM. Foi um momento revelador, libertador até, perceber que aquela monstruosidade que tomava conta de mim de tempos em tempos tinha nome, era normal e beirava o clichê. Não que a descoberta tenha me curado da TPM, nem amenizado. Mas agora, toda vez que eu odeio ai que saco puta que pariu vai tomar no cu eu paro, faço uma continha mental e ufa! É TPM! Que merda, filhadaputa. Mas é só TPM, vai passar. Assim também mais ou menos foi quando eu tive (ou percebi) pela primeira vez ansiedade. Eu me encontrava em um rebiliço, uma coisa, um UGH! e aí alguém me perguntou "por que você está ansiosa?" e aí eu meio que ah! isso é ansiedade? entendi. Engraçado, né? Vinte e seis anos depois, eu ainda vou descobrindo sentimentos e sensações tão comuns, que tanto se fala. E aliás, até hoje não sei o que é azia. Mas de cara, no segundo dia do ano, descobri outra sensação: a ofensa. Eu, que não sou nenhuma florzinha do campo, sou constantem