passaporte


Uma vez ouvi falar que a gente não tem que ter orgulho de coisas que a gente não conquistou. Por exemplo: devo ter orgulho da faculdade que estudei porque dependeu de mim. Mas não tenho que ter orgulho de ser brasileira. Eu não passei em nenhum teste nem escolhi ser brasileira, foi um acidente.
Vou partir daí.
Eu adoro esse país. Não troco a comida daqui por nada. Inclusive na cozinha internacional a gente é melhor. Nosso sushi é o melhor, nosso nacho é o melhor, nossa esfiha (de frango!) é a melhor. Nossa música e nossas praias, nossa ginga e nossas festas. Tudo isso me alegra, me deixa feliz ver gringo imitando um sambinha quando digo que sou brasileira. É quase um orgulho né? Que seja. Eu gosto daqui. Mas me deixa.

Me deixa porque o mundo é que é o lugar. O mundo não muda, o que é o mundo é o mundo e sempre foi. O que é o Brasil não sempre foi. Fronteiras mudam, ventos levam barcos pra longe das Índias e ninguém inventou terra não, só mudaram o nome. É só o nome que muda. A língua, às vezes. O jeito de chutar uma bola.
Mas todo mundo mora no mundo e é o mundo que eu quero conhecer. As pessoas de lá são as mesmas de cá porque lá nascem pessoas assim como aqui. Do tipo bom, do tipo ruim. Em sua grande maioria, filhos da puta. Lá e cá. É natural do ser humano, poucos fogem à regra. Mas se fogem não é por causa do passaporte.



Me deixa porque eu quero saber das outras realidades onde chamam mexirica de laranja e não sabem o que é palmito. Mas têm um IDH sensacional, né? Quero saber disso aí tomando uma cerveja gelada - que assim como um sorriso, significa a mesma coisa no mundo inteiro.

Me deixa falar com quem quiser, do jeito que quiser. Me deixa nos meus planos de fazer o que quiser da minha vida. Me deixa porque outros 190 milhões nasceram no mesmo pedaço de terra que chamam de Brasil. E isso só é uma coisa que a gente têm em comum.

Me deixa ir pra lá que isso não quer dizer que eu não goste daqui. E me deixe voltar. Porque aqui tem coxinha.


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Once I heard we shouldn't be proud of thing we didn't accomplish. For instance: I should be proud of the College I studied at because it was my own effort to get in. But I shouldn't be proud of being brazilian. I didn't take any test or chose to be brazilian, it was an accident. 
I'm gonna start from this. 


I love this country. I wouldn't trade its food for anything. Including International Cousine, we are the best. We have the best sushi, the best nacho, the best esfiha (chicken esfiha!).

Our music and beaches, our moves and parties. All this makes me happy, makes me smile to see a foreign trying to dance samba when I say I'm brazilian. It's almost like being proud, right? So be it. I like it here. But let me be.


Let me be because the world is the place. The world doesn't change, what is the world has always been. Brazil is not what it has always been. Frontiers changed, the wind took sailors away from India and nobody invented no country, they just changed the name. It's just the name. The language, sometimes. The way we kick balls.

But everybody lives on the world and the world is where I wanna go. People there are the same as the people here because it is people that they have there, just like we do here. The good kind and the bad kind. Most of them motherfuckers. Here and there. It's the human nature, a few refrain from being it. And if they're not motherfuckers, it has nothing to do with what it says on their passaport.


Let me be because I wanna see different realities where they call tangerine orange and they don't know what a palmito is. But they have an amazing HDI, huh? And I wanna see all that drinking a cold beer - which just like a smile, means the same thing everywhere.



Let me be friends with whoever I want, in the language I prefer. Let me plan things for my life. Let me be because another 190 million of people were born in the same piece of land we call Brazil. And that is just something we have in common.



Let me go because that doesn't mean I don't like it here. And let me come back. Because we've got coxinha.