sobre o seu protesto

As pessoas morrem de fome assistindo o gado morrer de sede. Morrem de qualquer coisa porque vivem abaixo da linha do ridículo, do humano. Os que podem, descem com a esperança de achar uma saída. Descem porque não têm mais escolha, acredite, ninguém migra pra cidade pra fazer intercâmbio e voltar pra casa com o facebook recheado de aventuras. 

Aqui não tem mais lugar. As leis da física se aplicam e todos esses corpos querendo ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo causam todo tipo de transtorno possível. As pessoas que antes morriam de fome agora têm o que comer porque o Bom Prato custa 1 real e o churrasco grego também. Mas essas pessoas continuam vivendo abaixo da linha do humano, porque o charme da favela acaba quando você olha um barraco por dentro.

Sem instrução, sem estudo, sem nem saber o que estão fazendo aqui, as pessoas não têm a menor chance contra o sistema. Se reproduzem nas mais altas taxas e aumentam a estrangulação da cidade. Se voltam para a criminalidade primeiro também porque parece que não tem outra escolha. Depois só porque nunca ouviram falar das outras escolhas.

O governo daqui é falho em tantas coisas que me dá preguiça. Não existe planejamento de nada, os investimentos vão para os bolsos errados e o inferno que a gente vive poderia ser uns 3 graus mais frio. Mas ainda seria um inferno. Se o metrô fosse londrino no tamanho, japonês na tecnologia, gratuito pra todo mundo. Ainda assim seria um inferno. Porque o nosso problema é que as pessoas fogem da fome lá de cima e vêm viver aqui, onde já não cabe mais ninguém.

E dentro da complexidade de injustiças, roubos e enganações desse país inteiro, que prejudicam uma maioria triste da população, você protesta porque o preço da passagem aumentou. Você protesta porque chegou no seu bolso. E é isso que tá errado, né?