paixão natônica
Minhas paixões sempre me moveram e aqui eu chego sem entender o que é que eu achava que me movia antes. Antes sempre foi a paixão, minhas paixões. Mas antes eu não sabia que era.
A coisa toda foi meio pervertida e não cabe aqui dizer que foi errado perverter. Tudo a minha volta pervertia minhas paixões mas talvez se não fosse assim, esse crescimento não aconteceria. Outros crescimentos aconteceriam. Tudo entra na subjetividade infinita do efeito borboleta, então vou abandonar os métodos e meios, vou abandonar as origens pra falar só das minhas paixões. Que foram muitas, são muitas. Algumas - todas - são efêmeras, sendo que umas duram mais e outras são eternas. Também abandono paixões, claro. Antes com a mesma velocidade que eu caía em amores, hoje mais lentamente. Chamo isso de amadurecimento. Sou mais madura nas relações com as minhas paixões, mesmo que entre elas estejam desenhos animados absurdos e menores de idade.
Tudo em minhas paixões me encanta ao ponto de me angustiar, daquelas angústias de não saber expressar o tamanho que elas têm em mim. Essa angústia da paixão é o combustível porque a constante tentativa de expressar a paixão de modo a fazer justiça completa à sua essência é o movimento. Utópico e, portanto, eterno.
A gente às vezes discorda, Platão e eu, nos nossos conceitos de amor e amar. Ele fala da pureza de um amor que é livre das efemeridades da paixão. Minhas paixões são (agora) livres do medo de suas próprias efemeridades e são, assim, constantes e puras como o amor platônico. Concordamos quanto à transcendência do carnal, da sexualidade, que pouco ou nada tem a ver com as minhas paixões e os amores platônicos. Ainda que por vezes eu entenda que a elevação de todas essas coisas pode misturar tudo lá no alto, e aí sim, ter algo que ver com tudo um pouco.
Num contexto mais terreno e objetivo, minhas paixões também são pontos de check-in da vida, onde o contato com elas me salva. E cada vez que eu me perco, só me encontro pelo contato com elas. A passividade de observar, a sorte de perceber e o amor que me move. Devo às minhas paixões a minha vida, que são elas. E a mim elas não devem nada, nenhum compromisso. Só precisam existir pra que eu também exista.