helpless earth

Jardineira, seu trampo é excelente. Parabéns. Enfia a pá no coração da terra e remexe em tudo, revira e deixa ela irreconhecível, até pra ela mesma. Aí sai. Vai embora viver sua vida, deixa a terra lá. Fodida e semeada. Porque você, Jardineira, não saiu sem deixar uma sementinha ali. Que puta trampo! Parabéns.
Daí veio a chuva, que foi uma enxurrada. Parecia que nunca mais ia parar de chover. Eu falei pra ela, Jardineira, que sempre que choveu, parou. Parou. Há quem diga que sua semente foi embora com a água, com o tempo, com o sol que voltou a aparecer. Mas você não brinca em serviço, Jardineira. Você volta. Sai lá da casa do caralho e volta. Sai do topo da torre mais alta do castelo mais lindo do mais encantador conto de fadas e volta. Volta, né Jardineira? Volta pra regar sua plantinha. A gente sabe que não tem chuva que lave e leve o que se planta em santa terra. Você também sabe, não é possível que não saiba, seria muita inocência, quase burrice. E você não é burra não, né Jardineira?
Pero Vaz já sabia que em se plantando, tudo dá. Basta regar. A irrepreensível insipiência de quem te cerca me abasta. Me irrita. Você faz seu trampo e todo mundo te deixa fazer. Parabéns por isso também. Parabéns pelo profissionalismo, pelo timing, pela resiliência. Parabéns pela discrição. Parabéns pelo seu jardim.
De mim, receba os cumprimentos da admiração por um trabalho bem feito. E só. Porque de mim vem também o desejo de que os frutos que você colha não tenham o sabor doce que você espera, mas que você aprenda com a amargura. Quando a chuva parar de cair de novo, sou eu quem vai estar aqui encharcada. Fodida. Você me fodeu.
Então sai fora, Jardineira. 
Mete o pé.