dois dias em santos
Aprendi trabalhando em navio que a gente tem que agradecer por estar onde está naquele dia, naquela noite. A saudade é a sombra da felicidade, ao mesmo tempo que é um lembrete de que se foi feliz. De novo, é o amor de mãos dadas com a dor. Quando eu estava no navio, sentia saudade de casa. Em casa, morria de saudades do mar. Com as pessoas, com os lugares, cada dia feliz é único e não se repete. A constante mudança da vida é que dá beleza a ela, porque se parada perde a graça e a brincadeira enjoa. Paradoxal, né? A beleza é a constante mudança, mas cada mudança mata a gente de saudade do dia que passou.
Então eu agradeço, mesmo nos dias mais parados, mais complicados, mais difíceis. Agradeço a oportunidade de achar beleza no caos, agradeço meu irmão me levando pra jantar num dia de 20 horas de jejum. Agradeço à doença que me lembra toda hora da sorte que eu tenho, das pessoas incríveis que me rodeiam. Ao exílio da cidade que eu respiro com o coração, agradeço os dias longe das pessoas que eu amo tanto. Porque sem isso talvez eu não tivesse sentido o que senti quando reencontrei vocês. Depois de pouco tempo e falando todo dia. Mas não sei qual que é a dessas situações, quando a vida muda de repente e a gente não sabe de mais nada, me vi segura em uma certeza, a maior de todas: metade de mim é amor, e a outra metade é tumor também.