você e a minha análise
Os dias difíceis chegaram junto com você e todo mundo achou que fosse relação, mas era correlação. Coincidência. Se for ver, você até amenizou pra mim algo que eu tô faz tempo tentando amenizar, como se eu tivesse te usado. Foda, né amiga? Mas a gente se usa mesmo, todo ser humano é assim. Te pediria desculpa se fosse pra você ouvir mas eu não me arrependo de nada não. Me coloco à sua inteira disposição pra me usar também, do jeito que você achar melhor. Te devo essa e quero sair com você devendo pra mim. Ou empatadas, amiga, que todo mundo ganha.
Você entrou na minha análise como um movimento que até agora não aprendi na faculdade como que chama. Não sei se é resistência, muleta, organização ou o quê. Mas funciona. Inclusive eu descobri que sou bem eficiente nesse negócio de fazer funcionar, porque tudo funciona pra mim, eu sou demais de competente. Mas nada é de graça, né amiga? Você não sabe disso porque você paga tudo à vista, no ato e sem parcelar. Você é um modelo de economia do trauma e eu, como sempre, nadando no cheque especial com os boletos (todos) atrasados. Acho que você tá me ajudando a pagar, me emprestando uma energia vital sem nem saber da importância que tem, ainda que eu fale o tempo todo dela. Ainda que você não entenda a metáfora, de certa forma eu acho que entende sim. Alguma coisa me faz achar que você sempre sabe exatamente o que se passa na minha mente, além de ter o super poder de se materializar do meu lado quando eu nem sabia que precisava te ver. Queria brotar assim também, na hora certa, mas esse talento eu não tenho: a paciência. Aí eu te atropelo.
Engraçado que eu passei por um intensivão de aprender ser paciente, naquele dia lá quando eu fui paciente durante 3 anos. Passei nas provas mais difíceis, amiga, umas pica que eu não consigo nem imaginar quando que vou falar disso, quando que essa dor vai finalmente doer. Eu tinha medo de dormir porque eu não sabia se ia acordar, e isso é conteúdo de ouro pra análise. Já ouvi de mais de uma pessoa que todo mundo gostaria de ser meu psicólogo porque eu conto altas histórias engraçadas, né? É rir pra não morrer, miga, é foda. Mas funciona.
Daí eu me sinto própria e pronta pra te ajudar na sua lição de casa também, mas quem tem que estar pronta é você, não eu. Ninguém apressou meu tempo e eu acho que tô tentando te apressar no seu. Pressa pra quê né, se você não sai mais da minha vida. O tom é quase de ameaça, mas na verdade é súplica. Não me abandona agora não porque se você sair eu fico sozinha comigo e comigo eu não quero estar. Não ando me reconhecendo nas últimas semanas e nem quem anda do meu lado. Não sei mais como que chora, cara. Desaprendi. Não sei se na hora que eu mais precisava ou se porque a Vale não quer outra Brumadinho, sabe? Você sabe.
Ontem faltei na terapia, inclusive. Pense numa decisão errada, amiga, pense num dia que eu não podia faltar. E agora tô aqui na minha segunda única forma de aliviar a dorzinha pungente de um peito tão cheio de dor que nem acho que é só meu, acho que tem do seu aqui também, acho que é uma via de mão dupla e só de te amar eu já sei como você é grande (gente grande cabe muita coisa dentro, né?).
Só queria te falar que já te escrevi aqui de todos os jeitos e hoje eu escrevo mais um pra você saber que eu sou grata demais pela almofada que você tá colocando no chão que eu tô vertiginosamente alcançando de cabeça. Eu te amo mais do que a quantidade de conjunção desse texto, e não desisto de você nem antes nem depois de desistir de mim.