a terra prometida

Você não morreu mas chegou ao paraíso, à Terra Prometida. E tanto faz de que religião você é ou se é ateu, sei lá. Aqui todo mundo pode entrar, todo mundo é igual, tem os mesmo direitos. É daora.
Não temos gente feia. Temos ângulos incríveis e muita maquiagem. Muito photoshop, muito filtro de instagram. Temos sorrisos e amizades sinceras. Muitas amizades sinceras, aliás. É muito amor! Ninguém esquece o aniversário de ninguém e as pessoas estão constantemente socializando e te chamando pra jogar algum jogo, ir ao teatro que fica em Manaus.
Mas a principal característica do nosso povo utópico dessa comunidade perfeita é o caráter. Todas as pessoas aqui são politizadas e conscientes de seu papel na sociedade. Todas são diferentes dos demais, por mais irônico que isso seja. Todas têm coragem e sabedoria. Todas lutam contra alguma injustiça que pode ser abandono de cachorro, atropelamento de ciclista ou homofobia. É mais nesse tema mesmo, mas há uma sazonalidade que arrebata os corações de quando em quando.



Todos também se preocupam com o alheio. Todos procuram desaparecidos. Todos se ajudam a evitar os mais diversos golpes que existem em toda e qualquer situação, desde roubo de celulares (que você não pode evitar mas pode foder com o ladrão) até alertas sobre os perigos insanos do não compartilhamento de uma mensagem. Aliás, aqui tudo se compartilha. Principalmente no mês atual que tem 5 segundas, 5 terças e 5 quartas que só acontece a cada 825 anos, onde uma mensagem compartilhada vale riqueza. É o único tipo de hostilidade do paraíso: o desafio, a psicologia reversa, a ameaça. Porque só não lê e compartilha quem não ama Jesus, quem quer que a menininha morra de câncer, quem não quer dar cadeira de rodas.
Claro que nem tudo é sobre dinheiro no lugar ideal. Há também muito amor. Amor demais, amor que nem existe. Amor pelos pais, pelos irmãos, pelo cachorro. Prega-se o amor de tal forma que é impossível um lugar assim não ser perfeito.
É o mundo ideal, onde os filósofos são os sinceros da depressão, onde o tomate é mais caro que o normal e onde a única coisa que não funciona é a hashtag.