forrest gump e eu odeio são paulo
Meti o Forrest Gump e saí andando, porque eu não sei correr e porque eu tava de allstar. Não fui tão longe quanto gostaria, três é menos que oitenta, mas precisava do sol, precisava da circulação ativa. Eu odeio São Paulo. Se eu estivesse em Santos, poderia andar pra sempre. Descalça. A música ia se misturar com ondas do mar, não com ônibus buzinando. O chão de areia é melhor do que as calçadas merdas, todas quebradas. O plano é melhor do que as subidas e as descidas que eu tive que encarar aqui. Meu plano era muito melhor, mas daí foi tanta subida que agora eu não tô sabendo lidar com a descida. Quero voltar pra casa mas eu tô de castigo. É um castigo, São Paulo é um castigo. É um cantinho que me colocaram pra eu pensar no que eu andei fazendo. Andei pra pensar e cheguei à conclusão nenhuma, além da mais pura flor da injustiça, que eu cheirei e descobri que sou alérgica. Os sintomas variam entre negação, revolta e tristeza. É um luto, meu luto novo que não tem nada a ver com o luto antigo - você errou. A suposição é a pior merda num mundo onde toda comunicação é permeada por milhares de mal entendidos. Já é assim, sempre é assim. Ainda piora, você supõe que sabe alguma coisa, you think you know but you have no idea.
Tô de castigo aqui, até não sei quando. Até a tia me deixar sair, até eu poder brincar de novo, que é só o que eu sei fazer e o que eu sinto mais falta. Me negue os beijinhos, me dê um soco no cu, mas não me deixe sem brincar. Não me amarre as mãos italianas e peça pra eu contar como foi o dia. Que dia. Que merda. Tô de castigo. Eu odeio São Paulo.