errata
O seu erro foi dar as mãos pra dor e pro amor e fazer com que eles andassem juntos o tempo todo. Seu erro foi tentar mostrar que eles são siameses, indissociáveis e, apesar do nosso esperneio desesperado, um não existe sem o outro. Talvez seu erro tenha sido tentar ensinar essa lição na prática, o erro estava na intensidade. Mas seu maior erro fomos nós, que jogamos pra você a culpa dos nossos próprios erros.
O erro foi nosso, na verdade, de viver uma vida de ilusão separatista que isola cada coisa em seu canto, num Universo onde a matéria só se transforma e nos faz continuidade de tudo. Separado nunca existiu, dor e amor só são dor e amor por causa do amor e da dor. A dor não dói se não houver amor, o amor não pode ser total sem dor nos limites da nossa humanidade. Você quis ensinar com dor e com amor o que os outros talvez só tenham mencionado em aula expositiva com slide. Ou você insistiu, continua insistindo na lição que antes a gente conseguia fechar os olhos e ignorar. A ignorância é nossa, o erro foi nosso.
Desde que nasceu até os minutos finais você caminhou com a dor e o amor, fiel à sua missão, indiferente ao linchamento que se formava a cada passo. Você foi o ano que precisava acontecer, rasgando cada coração enquanto passava, mas curando as feridas com o único remédio possível e nos deixando muito mais fortes. Não vamos perceber isso tão cedo, nunca vamos reconhecer. Mas é erro nosso. Você foi um puta de um ano bom.