O Júlio e a Monique

Hoje eu conheci uma moça que eu não esperava conhecer. De tudo que eu esperava pra esse dia, de todos os planos que já eram lindos, conhecer essa moça eu não esperava. Já foi tarde da noite, já foi quase amanhã. Eu conheci uma moça hoje que orou por mim.
Um amigo morreu. Assim, como morrem as pessoas que a gente gosta, de repente. E a morte do meu amigo ninguém também esperava. Um acidente, um carro, um caminhão. Meu amigo que foi o primeiro a perguntar da minha saúde no sábado, morreu. E a família dele morreu um pouco junto, nada é mais triste do que a casa de uma pessoa amada que vai embora. O som dos corações partidos, misturado ao choro que não compreende, não aceita, não para. A dor física que dói na gente só de olhar, só de imaginar, só de lembrar. Quase um eclipse do amor. Mas em meio à tragédia, eu conheci uma moça que insistiu pra que eu sentasse, mesmo ela estando com o pé quebrado. A moça levantou e fez questão de me dar seu lugar. A moça perguntou de mim, de como eu estava me recuperando. Que bom que deu certo a cirurgia, a moça sorria pra mim. Orei muito por você.
Eu já conhecia a moça, ou ela me conhecia. A verdade é que eu não lembrava dela, mas ela orou por mim. Acabou de perder o cunhado, de quem ela fala com amor sincero. E ainda assim, se preocupou comigo. Orou por mim.
Hoje eu vou dormir diferente de como acordei. Hoje o peso da vida parece que dobrou. Hoje eu revi amigas que eu não via há tantos anos, senti verdadeiramente que o tempo não mudou nada naquilo que a gente construiu. Depois o dia ficou triste, perdeu um pouco o brilho... mas aí eu conheci uma moça que orou por mim.