Dona Hilda
Quero aproveitar os pensamentos que eu tive ontem, voltando do luau, que foram uma explicação muito maravilhosa sobre como funciona o mundo. Mas como eu tava alucinando, talvez não saia. Mas vai sair.
A gente faz visitas em Trabalho em Saúde. A gente faz visitas em uma caralhada de matérias nessa faculdade, o que é ótimo. Saúde pública rocks. Mas essas experiências têm se tornado repetitivas em vários fatores, apesar da infinidade que cabe dentro da vida humana. Justamente essa infinidade de possibilidades de existências me fez pensar sobre sofrer a dor do outro. E misturou com um pensamento meio babaca, que virou um post meio prepotente, que na verdade terminou bem.
Basicamente eu não sei da sua dor, você não sabe da minha. Eu tenho aqui meus problemas que são socialmente gold! Câncer, caralho! Ninguém discute, ninguém nem compete, nem tenta vir pra mim e falar "ah não mas nossa eu tenho hemorróida, acho que é pior". Só a que a real é que talvez eu sucumbiria completamente a uma hemorróida. Poderia ser a pior coisa do universo e eu desejasse a morte, enquanto que com câncer eu tô levando ~numa boa~. Claro que eu já pensei nossa, tu num guenta um dia sendo eu, mas a real é que eu também não guento um dia sendo você. Nem as pessoas da TS, que são pessoas normais, que têm demandas, que têm sofrimento mas que têm seus próprios significantes construídos, suas próprias alegrias e satisfações que obviamente não tem nada a ver com as minhas. Assim, não tem porque eu pensar que a vida da Dona Hilda é extremamente sofrida porque nossa coitada, vários problemas, ai aquela casa, ai nossa o morro. Ela tem outras concepções, outras construções. É impossível que eu sinta a dor dela e não tem porque sentir. É uma puta falta de respeito, aliás, tirar a dignidade de uma pessoa por julgar as construções emocionais delas partindo do meu ponto de vista. Etnocentrismo sas hora?
Claro que estou falando a partir de uma situação onde a base da pirâmide de Maslow esteja coberta. Ou seja, pessoas que têm um teto sobre suas cabeças, comida para se alimentar, segurança. Necessidades básicas. Aí sim, tratemos então das necessidades sociais, conversemos! Vamos identificar demandas, vamos atuar onde pudermos para atender as demandas que a própria pessoa tem, não a nossa. Ai mas seria bom não sei o quê. A gente é muito doido com essas coisas, a gente fica imaginando que é a gente que mora lá, que vive aquela vida. A gente sou eu, eu tô falando de mim mesma, que pensei exatamente dessa forma que estou descrevendo o tempo todo e só ontem, depois do luau, entendi que não tem nada a ver essa porra aí não. Me deu um alívio que vocês não têm noção. Cada um da sua dor, cada um no seu amor. A mim cabe estudar para conseguir identificar e auxiliar nessas demandas. Essa demanda pode ser só conversar. Essa demanda pode ser um passe. Esse texto foi pra mim, não pra vocês. Eu quero mais ainda ser psicóloga hoje.