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Disney Cruise Line

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Eu trabalhava pro símbolo maior do imperialismo americano, que ataca a gente ainda no útero e coloca um logo nas mais tenras memórias da nossa infância. Que cresce com a gente, que é nossa música favorita, que é tão misturado com a nossa história branca privilegiada que nem parece que a gente é colonizado. A maior empresa de entretenimento do mundo, um monopólio capitalista, e eu lá brincando com filhote de red neck. É absolutamente contra tudo que eu acredito hoje e era UMA DELÍCIA. Foi uma época mágica e maravilhosa que parece que eu nunca vou superar. Aquilo foi formador de caráter pra mim, conheci alguns dos meus melhores amigos e tive as experiências talvez mais marcantes e incríveis da minha vida (que é inteira marcante e incrível). Eu olho pra essa foto e eu sinto O CHEIRO do carpete, eu sinto a textura do tecido da camiseta. Eu sinto orgulho. Youth Counselor na Disney Cruise Line era, na época e talvez ainda hoje, um dos pontos mais altos que se podia chegar na recreação. E eu ...

noção de permanência

D esde a hora que eu descobri que eu não era mais tudo já tive a noção de que as vezes é melhor não saber. Mas a noção também é a de permanência, quando a gente some da frente do bebê a gente DEIXA DE EXISTIR, caralho. Isso é muito bruto, o bebê chora, claro, imagina?! Depois a gente volta e o mundo fica completo de novo, até a próxima palhaçada.  Aprendi a arrastar a bundinha no chão e juntar palavras, aprendi a andar e jogar bola, correr de bicicleta e cair de patins. Matemática, química, trompete. Acho que é o lance da rotina, da vida centrada na escola, deu a entender que a minha missão na Terra era entender. E quando eu entendesse, eu entenderia. Mas a professora Carmen fica tacando giz na minha cabeça pra eu descobrir que a curiosidade matou o gato foi de desgosto, do esforço e do cansaço de tentar entender o que já nem era da minha conta, logo de cara. Parece que é mais difícil aceitar a minha própria insignificância, mas nada é mais difícil do que o impossível e não sabendo...

O Correio Nacional

Ontem eu fui dormir e era março. Você sabe que as vezes, muitas vezes eu percebo que tô sonhando e quando é assim eu quase sempre tento acordar, porque nada me parece melhor de viver do que a realidade. Acordada eu posso ter certeza de algumas coisas que o sonho me tira, da firmeza das paredes que me cercam, que nenhum desfile de caminhãozinho colorido vai aparecer do nada. De vez em quando eu aproveito pra tentar voar, eu visito alguém, faço alguma coisa impossível, mas normalmente eu me faço acordar. Por isso te afirmo com toda a certeza acordada que eu ainda estou dormindo. Primeiro porque o sol nunca mais nasceu nem se pôs, os dias emendam um no outro sem costura, o tempo não existe mais. Mas principal e dolorosamente porque justamente com as paredes eu já não posso mais contar. A dureza do ovo se confundiu com a derretida manteiga nesse calor bizarro que tá fazendo e eu ainda me reconheço todo dia sem acreditar. Agora tão culpando os meninos da favela que fazem bailão, num país qu...