noção de permanência

Desde a hora que eu descobri que eu não era mais tudo já tive a noção de que as vezes é melhor não saber. Mas a noção também é a de permanência, quando a gente some da frente do bebê a gente DEIXA DE EXISTIR, caralho. Isso é muito bruto, o bebê chora, claro, imagina?! Depois a gente volta e o mundo fica completo de novo, até a próxima palhaçada. 

Aprendi a arrastar a bundinha no chão e juntar palavras, aprendi a andar e jogar bola, correr de bicicleta e cair de patins. Matemática, química, trompete. Acho que é o lance da rotina, da vida centrada na escola, deu a entender que a minha missão na Terra era entender. E quando eu entendesse, eu entenderia. Mas a professora Carmen fica tacando giz na minha cabeça pra eu descobrir que a curiosidade matou o gato foi de desgosto, do esforço e do cansaço de tentar entender o que já nem era da minha conta, logo de cara. Parece que é mais difícil aceitar a minha própria insignificância, mas nada é mais difícil do que o impossível e não sabendo que era impossível fui lá e descobri (se me perdoam a citação de autor desconhecido). Ser insignificante é mais fácil do que entender tudo, acredite. Porque no fim eu não entendi nada, a noção de permanência ainda me falta, todo mundo que eu não vejo mais é como se tivesse deixado de existir. Vocês daí devem estar rindo atrás das mãos. Existem. Permanecem. Mas aqui eu choro porque tem coisas que eu nunca vou entender (até vocês aparecerem gritando "assô").