sem calças
A primeira coisa que vocês devem saber é que essa história é verdadeira. E se houvesse meios de provar que nada do que será contado é mentira, eu usaria-os todos. Mas não há. Então eu peço que acreditem em mim, porque é tudo verdade.
Durante os três anos de colégio, tive um amigo que era especial em diferentes formas e jeitos. Não quero aqui dizer que ele era especial no sentido APAE, como algumas pessoas se jubilam ao me chamar assim. Enfim. Ele, o Vitão, era especial a começar pelo cabelo: moicano, quando moicano era incomum. Mas isso não era o mais incomum naquela pessoa. Não, não. Ele era famoso por não usar calças.
Agora imagine você que eu conheci esse menino no colégio, onde as pessoas têm vergonhas e medos infundados à flor da pele. E no meio de tanta insegurança adolescente, o Vitão. Sem calças. No meio do trote, nas aulas de química, na fila da lanchonete. Sempre. Todos os dias. Vitão sem calças.
Tínhamos ali um cara de personalidade única! Cuja bunda era famosa (não só pelo óbvio, mas pelo tamanho descomunal considerando que o Vitão é um japonês meio baixinho). E ele tinha uma banda, tocava nos Saraus que tinha toda sexta-feira. Tocava violão com seu amigo Boi Maluco. Sem calças.
No frio, o mais engraçado. Ele se trabalhava no blusão, no cachecol, na toca. Tremia que nem um filhodaputinha. Ai, que saudades do Vitão.
Morrendo de frio e sem calças.
Sempre de bermuda.