a esquizofrenia do coração
Imersa em um mar de tragédias, de lágrimas de dor e sofrimento, se atendo às lembranças do que quase não aconteceu, ela meramente sobrevivia aos dias que passava já sem ele. Há tanto tempo sem seus beijos, sem ouvir o som da sua voz. O mundo parecia não mais rodar, não mais mudar. Tudo era estagnado em solidão, tudo era um nada sem coração.
Mas aí entrou um cara novo na loja. Sei lá, sabe assim? Gato. Bem gato. Mas uma pegadinha diferente, uma coisa mais desencanada. Ela curtiu na hora, esqueceu total a melancolia de antes, tava mais nem aí, só queria saber do cara. E o cara queria saber dela. Eram pura paixão, pegação, vodka e nada mais. Daora demais!
Eis que então o sopro dos ventos passados acariciou uma vez mais seu rosto já sem as marcas da dor de outrora. Ela viu aqueles olhos de cor de saudade e seu coração uma vez mais pareceu perder o compasso. Ele havia voltado, mesmo que por um breve instante, a intensidade do sentimento agiu como que uma teia que envolvia aqueles dois corpos. Ele a tocou, beijou sua boca. Ela estremeceu e uma lágrima correu paralelamente a uma gota fria de suor. Perdeu as forças nas pernas, perdeu o controle dos braços e do coração. E ele se foi.
E ela, muito da vagabunda, voltou pro mar, voltou pro bar, tascou cachaça na ferida e foi ser feliz com o cara novo da loja.
Hoje a lua reflete nas nuvens a luz de uma verdade única:
Dadinho é o caraio, meu nome agora é Zé Pequeno.