Estigmas


It only takes one tree
to make a thousand matches
it only takes one match
to burn a thousand trees
(Thousand Trees - Stereophonics)


Construímos nossa identidade a partir de uma série de observações, de aprendizados em uma relação interativa entre o meio em que vivemos e nossos aspectos biológicos, que resultam em tanta complexidade que, em um mundo onde vivem mais de 7 bilhões de pessoas, não encontramos duas personalidades iguais da mesma forma que não encontramos duas digitais iguais. Somos únicos.
Além disso, cada um de nós vive uma história, por onde nossa personalidade vai passando e afetando o mundo a nossa volta, da mesma forma que somos constantemente afetados. Temos capacidades das mais distintas e somos responsáveis pelas mais grandiosas realizações, seja qual for a escala de grandeza em que se mede essas coisas. 
Ao mesmo tempo, somos unidos por sentimentos básicos e atitudes compartilhadas. Somos feitos das mesmas coisas, da mesma matéria, mas a beleza da nossa variedade vem exatamente da forma em que tudo se mistura e resulta em coisas tão completamente diferentes.
E ainda assim, em meio à beleza universal da nossa singularidade, mesmo sabendo que somos o que ninguém mais pode ser e, mesmo cientes da nossa própria profundidade em relação ao exterior, mesmo conhecendo sobre nós e nossa própria história como ninguém poderia conhecer, conseguimos transpor toda essa lógica complexa que é a nossa realidade e dizemos à menina de vestido curto:
Vadia. 

Reduzimos ao pó sua história, sua interação entre meio e biologia, sua grandeza e sua capacidade. O vestido é curto demais. O pedaço de pano que falta levou embora tudo o que ela é e só deixou uma vadia no lugar. O socialmente correto nos transforma em antônimos de uma realidade que, de verdade, não existe. É uma utopia feia, hipócrita e meio chata. E sumir com a linha imaginária que a gente tem que seguir, também é uma utopia. Tirar uma coisa que já encrostou na natureza humana para sempre é tão difícil quanto sumir com a nossa rebeldia. Mas cada vez que a gente segura a ignorância, um julgamento a menos de cada vez, o mundo fica um lugar melhor. E a gente vira a busca pelo utópico para o outro lado. 

Vivamos por um mundo onde sim, Shakespeare, se chamarmos a rosa por outro nome, ela terá igual perfume.