pedaço do gato

Olha, eu não acho que neguinho sai matando coleguinha e família porque joga videogame violento não. Também não acho que a cadeia é que nem se mostra na tv. Nem o hospital. Nem a balada. Nem nada. Não acho que o entretenimento influencia o comportamento, acho que é bem o contrário. E por isso mesmo é que eu estou preocupada com vocês, gente. Tenho visto aí nas séries e novelas umas coisas do tipo você destruiu minha vida, eu sou assim porque papai é mau, não deu certo porque eu sou pobre . Sabe assim? Identificam isso em quase tudo que se assiste? Então, na verdade esse texto é mais um toque mesmo que eu queria dar: cês sabem que a vida não é assim, né? Nada define o que você é, nada define você além de você mesmo. Não é má sorte, não é cor, não é infância. Nem índole. As pessoas têm personalidades diferentes, origens diferentes, vidas diferentes. Mas se fica bom ou ruim só depende de cada um. O que você faz com a merda que te atiram na cara é responsabilidade sua. O resultado é

Hoje eu tenho 17 anos e decidi qual curso eu quero fazer na faculdade. Hoje eu tenho 17 anos e me inscrevi na prova de bolsa do Intensivão do Etapa. Hoje eu tenho 17 anos e amanhã eu vou fazer inscrição na Fuvest, meter a cara nos livros, sair japonesando a vida. Hoje eu tenho 17 anos e me vejo daqui mais 5 em algum lugar, fazendo alguma coisa. Estou cheia dos planos, quero também começar a estudar francês aos sábados e participar de projetos de voluntariado. Hoje, no auge dos meus 25, eu tenho 17 anos.  Só que dessa vez é sem a pressão que a juventude impõe na nossa cabeça, de que a vida tem que ser vivida inteira ainda essa semana. Sem o medo de nunca viajar e conhecer, sem o pavor da rotina. Dessa vez eu quero o curso e não o nome, quero o diploma mas dispenso os Jogos. Dessa vez eu já sei que beber no barzinho com os amigos é maneiro mas a oportunidade de aprender é mais. Dessa vez eu já sei que a gente não tá vendendo a alma pro diabo e o conhecimento a gente usa como preferir.

Tem gente que quando fala que quer escalar o Monte Fukushima, já comprou a mochila, a sapatilha, a barraca, a passagem, as roupinhas. Já vem se preparando há 8 meses e já até riscou do bucket list. Tem gente que quando fala que quer escalar o Monte Fukushima, você sabe que a pessoa vai escalar o Monte Fukushima. Se eu falo que quero escalar o Monte Fukushima, eu nunca vou escalar o Monte Fukushima. Não é uma questão de mentira ou de falta de força de vontade, é só uma questão matemática. Chances, estatisticamente falando, quando eu falo que quero fazer uma coisa, as chances são que eu não faça. Porque eu falo que quero fazer uma coisa diferente a cada 6 minutos e as vezes, enquanto eu falo para alguém meu plano de fazer aquela coisa, eu já mudo durante a frase, desisto daquilo e resolvo que é melhor fazer a outra coisa que agora eu quero fazer. Eu tenho a volatilidade de um mercúrio. Eu desisto com a facilidade de uma piriguete. Mas hoje eu recebi um telegrama, era você de Aracaju

A gente aprende a respeitar as pessoas porque é da nossa natureza ser bacana. A gente espera esse respeito em troca porque é da nossa natureza ser idiota. A gente respeita quem não pensa igual a gente mas a gente acha que todo mundo pensa assim, igual. Não é o caso do mundo nem o caso desse texto. Cada pessoa pode pensar o que quiser, na verdade. Eu penso muitas coisas que são diferentes do que muita gente pensa. Minha religião ainda é tema de programas sobre tabus e o grupo de pessoas que entendem qualquer coisa disso ainda é muito pequeno. Até na minha família, até meus amigos. E tudo bem, ninguém tá errado nem ninguém tem culpa de nada. A Umbanda é nova e complexa, abrange coisas de todas as religiões. Então, como eu disse, ninguém tá errado não. Nada está errado, aliás, é tudo uma questão de perspectiva. Daí meu pai morreu. Do nada, seu eu contar assim. Mas nem tão do nada se a gente olhar de perto. Porque ele sabia que iria morrer logo e foi dando nós em cada pontinho. Fo