a fé não costuma falhar

A gente aprende a respeitar as pessoas porque é da nossa natureza ser bacana. A gente espera esse respeito em troca porque é da nossa natureza ser idiota. A gente respeita quem não pensa igual a gente mas a gente acha que todo mundo pensa assim, igual. Não é o caso do mundo nem o caso desse texto. Cada pessoa pode pensar o que quiser, na verdade.
Eu penso muitas coisas que são diferentes do que muita gente pensa. Minha religião ainda é tema de programas sobre tabus e o grupo de pessoas que entendem qualquer coisa disso ainda é muito pequeno. Até na minha família, até meus amigos. E tudo bem, ninguém tá errado nem ninguém tem culpa de nada. A Umbanda é nova e complexa, abrange coisas de todas as religiões. Então, como eu disse, ninguém tá errado não. Nada está errado, aliás, é tudo uma questão de perspectiva.


Daí meu pai morreu. Do nada, seu eu contar assim. Mas nem tão do nada se a gente olhar de perto. Porque ele sabia que iria morrer logo e foi dando nós em cada pontinho. Foi preparando tudo, deixando tudo no esquema. Cuidou de questões financeiras, cuidou pra que cada trabalho dele tivesse alguém que continuasse. Ensinou o suficiente para que a gente quisesse aprender por conta própria, avisou minha vó, pintou o apartamento da minha tia. Teve filhos, plantou árvores, escreveu livros. Cumpriu as missões todas e todos os frutos de todos os seus trabalhos foram homenageá-lo no velório mais bonito que já se viu.
Antes de morrer de repente, meu pai trouxe a Umbanda pra nossa vida e com ela o entendimento das coisas. Antes de morrer de repente, meu pai explicou pra gente que ninguém morre de repente, que tudo tem um sentido. Antes de morrer de repente, meu pai desmistificou a morte, que é só uma passagem. Aí sim passou.
Agora, mais do que nunca, eu sei o tamanho que tem o amor e o tamanho da minha família (que metade nem é de sangue). E não sei como estaria nem o que seria eu agora se não fosse a fé. Não sei explicar esse sentimento de conforto. Aliás, também não sei explicar como que o pó de pemba (um tipo de giz) que foi jogado por cima das coroas de flores no cemitério agora aparece na grama, como se tivesse atravessado aquele monte de flor. Deve ser macumba, né? Tomara!