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Showing posts from December, 2016

queijo mofado

Cresci comendo queijo mofado. A família da minha mãe tem peculiaridades que incluem uma língua própria e comportamentos característicos. Um deles é acreditar na potencialidade de cada alimento até o cheiro de podre causar ânsia. Ninguém olha data de validade ( no meu tempo não tinha isso ), o negócio é cheirar. Queijinho com pedaço de mofo? Corta a parte mofada e come o resto. Vida que segue. Um dia, já no ensino médio, aprendi que as bactérias são tão pequenas que são invisíveis a olho nu. Isso quer dizer que quando a gente começa a enxergar o mofo, é porque já tem tanta bactéria, tanta, mas tanta (!) que dá pra ver o bagulho que é invisível. Não adianta cortar a parte mofada porque o resto do alimento já está comprometido.  PARECE.  EU. QUANDO ACHO. QUE TALVEZ. PODE SER. QUE TENHA. UM SENTIMENTINHO. OLHA! DÁ PRA VER! VOU CORTAR ESSA PARTE MOFADINHA. QUE DAÍ EU ME LIVRO! SÓ QUE. O ALIMENTO. TÁ COMPROMETIDO. ENTÃO.  NÃO ADIANTA. Mas é melhor comer

bambolezasso fora temer

Sabe que que parece? Que vocês tão cada uma num canto com seu micro grupinho tacando bolinhas de bosta nos outros micro grupos porque eles não são tão legais quanto vocês. Ou sofridos, ou discriminados. Sei lá. Cada uma se pega num livrinho de regras e aí fica "PAREM DE FAZER TAL COISA" porque você é muito mais elucidada que a coleguinha. Aliás, parece que rola uma eterna competição pra ver quem é a mais elucidada, a mais desconstruída, a mais liberta de toda ignorância e das amarras que a sociedade tão violentamente nos impõe. E tudo isso com muito amor e empatia, que vocês pregam de forma passivo-agressiva com florzinha nas publicações e com mãozinhas de gratidão, mas na real vocês tão tudo é falando mal uma da outra e julgando de sua própria visão etnocêntrica. E estaria tudo bem, porque todo mundo faz isso, inclusive é justamente o que eu tô fazendo, mas eu não aguento mais a pregação de cidadã utópica e maravilhosa, como se o mundo fosse aquele filtro do snap que você s

que porra que é Dumbo e outras reflexões

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Acordei mais tranquila depois do dia catártico de ontem, como sempre é em qualquer situação de apoteose. Inclusive eu sempre odiei a palavra apoteose. Ela tá em algum momento de Dumbo e tudo naquele filme me é extremamente traumático. Aquela coisa dos pink elephants on parade é absurdamente confusa, estranha, uma coisa meio sustenida. Não sei. Traumático. E o bagulho se passa no meio da brisa de droga do Dumbo, que é uma criança. Que porra que é esse filme né gente? É um dos meus favoritos. Não sei explicar. Mas enfim, depois de tirar toda a raiva da minha frente (toda?) eu hoje tô pensando numa coisa aqui bem específica, quase que bizarra de tão específica, e é um convite pra vida vir ler mas só como um exemplo. Pena que não dá pra marcar a vida no post, mas dá. Ela vai ler. Então, é só um exemplo bem genérico dentro de toda sua especificidade.  Suponha você que nos grandes livros do destino onde Deus escreve certo por linhas tortas o caminho a percorrer de cada um de nós,

não cabe recurso

Queria deixar uma coisa bem clara, até por causa da comissão de ética: eu tô puta. Extremamente puta, one hundred percent putassa. Eu não sou o ser evoluído que você pensa, eu não tô lidando com isso tudo de forma iluminada e inspiradora. Eu tô puta. Sem entender e sem opção a não ser aceitar. Não cabe recurso, eu não posso fazer absolutamente nada em relação a essa situação. Eu tô presa. E puta. Não sei se isso afeta minha fé, ou como afeta minha fé. Não me sinto abandonada nem desprotegida. Não esqueci da minha sorte e do quão abençoada eu sou. Mas meu Deus do céu, eu preciso de 5 minutos pra ficar puta. Pra ficar desolada com tudo e até em desespero. Não perdi a fé, não posso perder.  Até porque, pode piorar. De hoje até a cirurgia, talvez até semanas depois da cirurgia eu tenho que segurar a onda porque pode piorar. Ainda não posso perder o fôlego de tanto chorar, não posso começar a elaborar o luto. Pode piorar e eu morro de medo da vida gritar comigo TU TAVA ACHANDO RUIM, QU

dois dias em santos

Aprendi trabalhando em navio que a gente tem que agradecer por estar onde está naquele dia, naquela noite. A saudade é a sombra da felicidade, ao mesmo tempo que é um lembrete de que se foi feliz. De novo, é o amor de mãos dadas com a dor. Quando eu estava no navio, sentia saudade de casa. Em casa, morria de saudades do mar. Com as pessoas, com os lugares, cada dia feliz é único e não se repete. A constante mudança da vida é que dá beleza a ela, porque se parada perde a graça e a brincadeira enjoa. Paradoxal, né? A beleza é a constante mudança, mas cada mudança mata a gente de saudade do dia que passou.  Então eu agradeço, mesmo nos dias mais parados, mais complicados, mais difíceis. Agradeço a oportunidade de achar beleza no caos, agradeço meu irmão me levando pra jantar num dia de 20 horas de jejum. Agradeço à doença que me lembra toda hora da sorte que eu tenho, das pessoas incríveis que me rodeiam. Ao exílio da cidade que eu respiro com o coração, agradeço os dias longe das pes