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Showing posts from January, 2015

de repente 26

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Quando eu era pequena e magra, meu irmão, no auge do que hoje conhecemos por recalque, nascido e alimentado pelo fato de ele estudar e eu assistir Malhação comendo Trakinas todo dia, dizia que um dia eu ia acordar gorda. Do nada. E com os olhos castanhos. O medo da concretização dessa profecia me seguiu para a vida inteira. E segue ainda, se você quer saber, porque um dia eu acordei gorda (alô cortisona!) e agora checo no espelho todo dia de manhã pra ver se meus olhos ainda são verdes. A vida numa família de macumbeiros é de uma estranheza sem limites. Daí que esse medinho foi se estendendo a outros fatores da vida, como por exemplo ir dormir e acordar velha. E você já passou por isso, que eu sei. Você já fez alguma coisa na vida e pensou caraca, cresci. Eu pensei nisso quando comi bolo de outra coisa que não chocolate e gostei. Pensei nisso quando não entendi uma gíria. Pensei nisso todas as vezes que eu troquei balada por netflix. A coisa acontece assim mesmo, de repente. A vid

that thing you said

It's not like I was paying any attention at all but somehow I could tell the exact moment when everything shifted. It felt like a small breeze caressing my skin softly, like getting punched in the face with an axe made of acid on fire. So subtle. I didn't hurt tho, nothing does anymore. I have years ahead of me of psychologic treatment to take off those mattresses life carefully posted around me, to shield all them feelings away. They beat the sin out of me on a daily basis, but I only get a memo. I don't feel a thing. I don't believe this is healthy, either. 

ah, o cidadão de bem!

- QUERO JUSTIÇA!, diz a mulher do empresário que levou um tiro em uma tentativa de assalto. Ele passa bem, graças a Deus e ao Sírio Libanês, para onde foi levado às pressas e operado pelos melhores cirurgiões do país. A moça tem razão em querer justiça. O marginalzinho deveria levar um tiro também, pelo menos. Pra ver se assim acabava com essa violência no Brasil. Só queria saber da moça onde estavam os pedidos de justiça quando o marido nasceu na maternidade Santa Joana, num parto humanizado e assistido pelos parentes e amigos, que trouxeram presentes e amor para o recém-chegado. E o marginalzinho sobreviveu à gravidez de uma mãe que fumava crack, num hospital público ou no meio da rua, onde também passou a maior parte da infância e adolescência. Diferente do cidadão de bem, que brincou no parquinho do prédio e foi seis vezes pra Disney conhecer o Tio Patinhas, que era seu maior ídolo. Tio Patinhas também era o nome do traficante que começou a dar dinheiro pro marginalzinho lev

to je suis or not to je suis

Je ne suis pas Charlie. Je fiquei triste pelo que aconteceu, je não acho que nada justifica uma morte, nem duas, nem doze. Je não acho que ninguém merecia o que aconteceu e que foi, de fato, uma tragédia.  Mas je ne suis pas Charlie, não mais do que je suis crianças paquistanesas, civis palestinos e israelenses, vítimas do tráfico no Brasil. Je me preocupo com todas essas questões mas je não acho que o que aconteceu em Paris foi mais importante. Cinco horas antes do atentado em Paris, um carro bomba explodiu e matou 30 pessoas do Yemen. Je não vi nenhuma hashtag sobre isso. Je também não entendo o que aconteceu como um atentado à liberdade de expressão. Seria o caso se fosse um jornal Iraniano, por exemplo, ou de qualquer país de maioria muçulmana. E nesses países, o que a gente considera liberdade de nada é muito livre. Em Paris, uma charge zuando o Islã não é uma crítica, é uma zuera. Não chama crítica quando a coisa não tem nada a ver com você, não chama crítica quando o alv

a polarização de tudo

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As coisas existem.  Eu poderia parar por aqui, seria muito mais genial. Mas vou explicar essa frase mind blowing: As coisas existem, já existem, meio que sempre existiram. Meio , porque né, início da humanidade, evolução, adão e eva, tal e pans. Sempre existiram desde que as civilizações existem, pra ficar mais tangente. E também não são coisas físicas tipo sabonete ou pau de selfie. Essas coisas foram sendo criadas e cada dia tem mais coisa, mas cada dia também morrem coisas então cada dia tem mais e menos coisas. Só que as coisas que eu me refiro são as coisas da vida, sentimentos, fenômenos psicossociais.  E elas já existem, mas vão sendo catalisadas por determinados acontecimentos sociológicos e, por isso, parece que antes não tinha gay nem homofobia, depois tinha, depois lutou-se contra, agora tem heterofobia [sic]. Sabe assim? Papo de avô que no meu tempo não tinha sei lá o que. FUN FACT: é real, meu avô disse que no tempo dele a estrada de são paulo à ubatuba

Black Lives Matter More Than Yours

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Tem nem dois anos que eu percebi que eu tenho TPM. Foi um momento revelador, libertador até, perceber que aquela monstruosidade que tomava conta de mim de tempos em tempos tinha nome, era normal e beirava o clichê. Não que a descoberta tenha me curado da TPM, nem amenizado. Mas agora, toda vez que eu odeio ai que saco puta que pariu vai tomar no cu eu paro, faço uma continha mental e ufa! É TPM! Que merda, filhadaputa. Mas é só TPM, vai passar. Assim também mais ou menos foi quando eu tive (ou percebi) pela primeira vez ansiedade. Eu me encontrava em um rebiliço, uma coisa, um UGH! e aí alguém me perguntou "por que você está ansiosa?" e aí eu meio que ah! isso é ansiedade? entendi. Engraçado, né? Vinte e seis anos depois, eu ainda vou descobrindo sentimentos e sensações tão comuns, que tanto se fala. E aliás, até hoje não sei o que é azia. Mas de cara, no segundo dia do ano, descobri outra sensação: a ofensa. Eu, que não sou nenhuma florzinha do campo, sou constantem