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Showing posts from 2018

Felicidade

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felicidade é um negócio doido porque ela desafia a lógica de espaço-tempo: você pode ser sempre mais feliz, sem nunca ter sido menos feliz do que é agora. ela dispensa advérbios de intensidade porque a própria felicidade é intensa em si mesma, está completa o tempo todo, ainda que se multiplique toda hora. felicidade acumula. os momentos felizes vão se somando ao longo da nossa vida e quando se acredita que não pode ser mais feliz, a vida muda e a felicidade artista se transforma e se veste de alguma outra coisa que você não estava esperando, as vezes demora pra reconhecer, mas é ela. e você é mais feliz. a felicidade atravessa o tempo de carona na saudade e no amor, a gente lembra de como foi feliz e é feliz de novo. um cheiro, um gosto, uma palavra que bate na memória, e como num passe de mágica, você volta para aquele momento feliz. parece que dura um segundo, mas dura pra sempre. felicidade é para sempre. mesmo nos dias difíceis, nos momentos de tristeza,

eu do passado

Um dia eu quando eu tinha 11 anos, eu tava sentada na praia do Félix em Ubatuba, olhando o mar e me sentindo meio triste porque era final de janeiro e a gente já ia embora. As férias estavam acabando e eu ia ficar aquele tempão sem voltar pra praia. Aí foi saindo do mar uma mulher alta, com umas pernas fininhas e uma cicatriz na barriga. Veio andando na minha direção, sentou do meu lado e falou: - Sabe a Rafa? - Quê? - A Rafaela, sua amiga. - Sei. Por que? - Relaxa. Vocês ainda são amigas. - Sim, eu sei. A gente é amigas. - Então mas relaxa, sempre serão. - Do que você tá falando? Quem é você? PAI! - Ixi, nem adianta gritar, eles não vão me ver. - Como assim? - Eles não vão me ver, eu sou você. - Você sou eu? - Sim, eu sou você no futuro. Meu presente. Mas seu futuro. - QUE HISTÓRIA DOIDA É ESS- - OLHA MINHAS PERNA, FIA! - Quê? - Olha minhas perna, não tá notando a semelhança? Olha o nariz! Olha meu olho, caceta! - Eita preula. - É então, mas deixa eu te falar que e

ácido desoxiranzinzanucleido

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Sabe por que velho é ranzinza? Velho é ranzinza. De maneira geral, o espírito do velho é ranzinza. Mesmo aquelas velinhas-palmirinhas todas fofas de oclinhos e cabelo branco, que fazem bolo de cenoura pros netinhos, mesmo elas, dentro delas tem ranzinza. E eu vou explicar pra vocês o porquê, vou elucidá-los com a minha imensa sabedoria. Acontece que no núcleo das nossas células, tem a fitinha de DNA lá e tem um finzinho do rabinho dela que vai se perdendo com o tempo e ela para de se reproduzir e por isso a gente tem todas as milhares de consequências do envelhecimento: perde colágeno, osteoblasto, neurônio e tudo mais. Isso a ciência e talvez vocês já saibam. Mas o que vocês não sabem é que existe uma fitinha semelhante na nossa mente que vai crescendo e se reproduzindo pra incorporar ao nosso entendimento cada coisa nova que aparece. Para além da aprendizagem, essa fitinha vai dando reboot nas ideias e nós, os jovens, somos capazes de entender e compreender com facilidade todas as

what if

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A primeira memória que eu tenho com futebol foi a final da Copa de 94, que a gente assistiu em Ubatuba na casa da Di, e a Tata fez pipoca doce colorida de verde e amarelo. Eu sei que não começou ali, porque com 6 anos eu já sabia a escalação inteira da seleção, mas o tetra com certeza consolidou alguma coisa em mim. Depois eu lembro de eu jogando bola com os moleques do meu prédio, eu descalça e eles de chuteira: perdi a unha do dedão. Doeu bastante. Doeu também quando eu fui arrancar os dentes de leite (eles nunca caíam sozinhos, véi) e o meu padrinho arrancou logo 6 de uma vez. Aí ele disse que eu não podia comer coisa quente nem muito dura. - Mas pode jogar bola? Meu pai deu muita risada, ele tinha muito orgulho da filha futebolista dele. Falou bastante desse orgulho todo pro cara que tava tomando cerveja no hotel, alguns anos depois. A gente estava no hotel Plazza, onde sempre rolava uma bolinha e eu sempre jogava com os meninos, claro. O cara que estava conversando com o meu

boomerang do mercúrio

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Coisa que me deixa angustiada é efeito boomerang. Não sei como voluntariamente alguém prefira a repetição infinita retrógrada do boomerang à beleza finita e conclusiva do gif. A vida é um gif mas é um gif engraçado, a vida é o gif da menininha exausta ou do cara loirinho confuso. Cada vez que começa a gente sabe onde vai dar, mas a gente ri do mesmo jeito, talvez mais. É um ciclo, e os ciclos não são prisões porque mesmo dentro de um ciclo que se repete, há elementos novos a serem adicionados. Cada vez que a menininha exausta se joga na cama, a gente joga junto um cansaço mental de um tweet idiota. A gente sai melhor de um gif, pronto pra outro.  Mas o boomerang não, gente. O boomerang anda pra trás, o boomerang é uma involução de tudo que se evoluiu naquele mesmo instante. Dificilmente alguém acerta o ponto do boomerang, dificilmente a ação se conclui, o pulo sempre fica pela metade, a risada nunca é até o final... e aí volta! Regride! Retarda! Dez passos pra frente, dez passos pra t

um dia perfeito

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Acordei de um sonho doido no meio da noite. Era tanto sono que eu não sabia nem onde eu tava, e quando percebi que eu tava aqui, sorri e corri pra fazer xixi. Voltei a dormir até a hora que o corpo achou que tava bom. Levantei e tomei aquele café da manhã dos deuses: leite com nescafé e dois cookies Toddy com chocolate extra. Top. Arrumei a casa, lavei a louça das masterchefisse de ontem, dei uma varridinha no chão. Sentei pra fazer uma tradução enquanto ouvia o cd que meu dems recomendou (é ótimo, dems!) e assisti Good Girls. Pensei no almoço. Não tinha nada, fiz macarrão com manteiga e ketchup, minha especialidade. Top. Entrei numa discussão sem fim (mas muito engraçada) sobre séries e como New Girl e Brooklyn 99 são gêmeas e como a Nani não usa bem a parte do cérebro que cuida de bom gosto para humor. Depois combinei com meus amigos da gente sair pra fazer uns corres. Mas pera, agora quero falar desses amigos. Eles não fogem à regra de serem pessoas incríveis, eu tenho o dom de

resiliência

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Há exatamente um ano eu estava na minha pior forma possível. Não sei se exatamente mesmo, é modo de dizer. Mas por ali, há um ano eu estava mal. Mal de saúde mesmo, o tratamento castiga bastante antes de sarar. E mal em geral, estava gorda, inchada, debilitada, careca. Não me reconhecia no espelho, não conseguia andar quase. Precisei insistir muito com a enfermeira pra não usar cadeira de rodas, ela não queria que eu levantasse. Eu tava na merda há um ano. Porra, um ano. Hoje eu me olho no espelho e eu gosto muito do que eu vejo. Tô no peso legal, trocando massa gorda por massa magra. Condicionamento melhorando sempre, tô gostando demais de treinar e cuidar da saúde. Tô amando surfar. Amando. Sério. Preciso falar mais disso um dia. Um ano e eu tô na melhor forma que eu já estive na vida, descobrindo emoções que eu nunca tinha sentido, me conectando mais ainda com o mar. Um ano. E com todos os traumas e problemas, todas as peripécias de uma vida normal, tudo que é str

levanta a cabeça, princesa, senão a coroa cai

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Beirando os 30 anos de idade, me sentindo toda parapapá madura sábia, eu de repente descubro que não sei andar. Não sei andar! Ao longo da vida pessoas me falavam que eu andava esquisito mas eu achava que era uma característica apenas, que nem cabelo. Ah, seu cabelo é assim e tal. Mas não sabia que tava ERRADO. Tipo, eu me locomovo, então tá funcionando. Só que não é da melhor forma, de gastar menos energia. E aí por consequência, eu não sei correr. Estudos descrevem que eu corro igual uma galinha, com o pescoço pra dentro e as asas pra fora. Isso diz muito sobre minha postura, que é péssima. Ou seja, eu também não sei ficar parada. Coisa básica, né? Em aula eu tenho percebido que normalmente eu não consigo expressar as minhas dúvidas. O que eu tô pensando não consegue chegar a tempo na boca. Eu não sou burra, mas eu não consigo provar. Por isso eu gosto de escrever, porque dá tempo do pensamento sair e eu posso voltar, corrigir, reler. Eu gosto de escrever porque eu também não sei

n prq o freud

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Eu sou muito bolada com essas tretas da psicologia, principalmente com os "não-freudianos". Que não freudiano? É freudiano sim, meu parceiro, aula 1 de Psicologia, o princípio de tudo, a origem dos astros, quem descobriu a bagaça toda foi ele. Foi o Freud. Machista, misógino, hipocondríaco, cheirado, tudo o que todo mundo era no século XVIII, mas genial. Lave seu recalque com sabão pra falar do Sig que ele não meteu 28 volumes no empirismo pra você chegar desmerecendo o cara. Fico puta. Por que não faz que nem Lacan? Lacan falou porra, daora esse negócio do alemão, dá pra fazer assim, assim e assim . Freud inventou a pizza, Lacan é o brasileiro que criou a pizza de strogonoff com batata palha. Foda-se, é pizza. Não parece nem com o cheiro da napolitana mas seria audácia demais falar que ele inventou uma nova comida, né? É pizza. É Freud. É o inconsciente, é o trauma, filho, É O ÉDIPO! Ah mas a análise do comportamento, que não sei o que da cognitivo, porque o humanismo..

querido diário

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Querido diário, hoje eu acordei 7 horas da manhã, tomei café com leite e depois comi uma banana. Fui pra minha aula de surf e, diário, tudo aquilo que falam sobre surfar é verdade. Você fica zen, de bem com a vida, energizada. Sério, sem caô. É uma delícia! Daí eu fui pra casa de bike, com a vista mais linda que existe. Cheguei em casa, botei a Marília pra cantar, fiz cocô, tomei banho e depois espremi 4 laranjas pra tomar suco com o lanche de patê de atum com cenoura ralada no pão de iogurte. Recomendo. Sentei pra trabalhar um pouco ouvindo o Encontro com a Fátima (adoro ela) e depois fui almoçar com uma das pessoas que eu mais amo no mundo. Sim, diário, no mundo! Sete bilhões de pessoas! E depois fui no shopping comprar um short de 19,90 que eu vi na Riachuelo. Tomei um frapuccino no Starbucks, tava excelente. Fui pra casa, assisti Lost, trabalhei mais um pouquinho e depois fui treinar na praia. Foi um teste e eu fui bem, corri 12 minutos sem parar, sem andar, que é

ai, que saudade do meu eu

A gente é uma pessoa quando tá sozinha e outra quando tá com pessoas. O indivíduo perde parte da sua individualidade no grupo, pra daí constituir o indivíduo do grupo. Faz sentido, se você pensar. O que você assiste no Netflix quando tá sozinha em casa não é a mesma coisa do que quando sua mãe tá junto. E é assim com tudo, em todas as situações. A gente sacrifica pequenas (ou grandes) partes de nós pra poder viver em comunidade. E sem comunidade a gente não vive. Happiness is only real when shared. Não é máscara, não é falsidade, não é psicose. Simplesmente é impossível a gente agir com a mesma liberdade que temos sozinhos se tem mais alguém lá, e tudo bem. De vez em quando dá uma angústia que a gente não sabe nem da onde vem. Uma bola de neve, porque você pode estar rodeada de pessoas que ama e mesmo assim quer ficar sozinha. Se sente culpada, porra que mancada. A angústia aumenta. Mas nem esquenta, isso é saudades. Saudades de você, da pureza de você sozinha com você mesma. Saudad