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Showing posts from September, 2010

festa da firma

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Mas tudo bem também. Você trabalha no banco, no escritório, na firma. E você gosta disso. Tudo bem. O mundo precisa que existam muitas pessoas como você, que gostem do papel, da gravata, do progresso. O mundo precisa mais de você do que de mim. Eu entendo, eu respeito. Tudo bem. Meu irmão é uma das pessoas que eu mais admiro na vida. Ele trabalha no maior banco de investimentos do mundo. Ele fez 82 anos de cursinho porque quis estudar na USP. E estuda. Faz um desses cursos mei chatinhos mas ele gosta. Aí que tá, o cara gosta. Faz o que gosta. Faz bem o que gosta. Por isso não se deprima #menudos só porque você não conhece o caribe. Não pense que eu penso que só o meu sonho é que é legal. Você faz o que gosta, você tá arrasando também. Cada um na sua felicidade, cada um no seu caribe. Só não me pergunte quando eu vou começar a trabalhar ~de verdade. Nunca.

Dear NatGeo,

Venho por meio deste respeitosamente informar que a minha religião não é freak show. Eu sei que deve parecer fantástico e assustador o fato de algumas pessoas serem otárias o suficiente para acreditar em espíritos e em galinha preta morta na encruza. Mas a gente que é otário tem muito orgulho disso e é extremamente desagradável quando tratam nossa fé como uma bizarrice. Sei que documentários sensacionalistas são um doce que atrai a abelinha da audiência mas, se possível for, evite fazê-los quando se trata de religião. Vamos falar dos absurdos ambientais que provém do seu país. Ou da corrupção bestial do meu país. Pautas intermináveis, ficadicaí. Agora, se querem falar da Umbanda, falem direito. Contem a história inteira, expliquem os porquês, expliquem as origens. Falem a verdade porque a verdade já é fantástica o suficiente para se encaixar no seu Tabu América Latina, sério. Só não me faça parecer uma doida que fala com espíritos do além porque ó: soa mal. Yours sincerely, Natália

em Cozumel

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Lá em Cozumel tem umas pessoas que acordam todo dia com o sol da manhã. Tomam café da manhã e vão para a praia trabalhar. Porque essas pessoas trabalham na praia. Em Cozumel. Aí eles esperam os milhares de passageiros dos pelo menos 3 navios que lá aportam todo dia. Porque os passageiros descem e, claro, querem conhecer o mar porque afinal eles estão em Cozumel. Então procuram aquelas pessoas que trabalham na praia, pagam 50 dólares e aquelas pessoas bacanas acompanham os turistas em um mergulho de 40 minutos. E a mesma coisa acontece 5 ou 6 vezes por dia e, portanto, aquelas pessoas ganham mais ou menos 300 dólares cada vez que o galo canta. Em Cozumel. Daí os passageiros voltam para seus navios e vão embora. E as pessoas bacanas da praia voltam para suas casas bonitas e têm a noite caribenha para aproveitar. Elas têm o céu estrelado e o calor do trópico. Em Cozumel. E depois dormem para no dia seguinte poderem mergulhar mais e ganhar mais dinheirinho gostoso. Em Cozumel. Eu sou mergu

os sonhos

Daí a gente saiu do Centro ontem e fomos cada um pra sua casa. Eu cheguei na minha, tomei banho e fui dormir um pouco antes do churrasquito tradicional. Nessa que eu dormi, sonhei que eu estava no Centro, indo embora. Aí minha madrinha falou pra eu ir no carro dela, pra gente parar no Mc Donald's. E eu disse: - Não, madrinha, num posso. Eu tenho que ir pra minha casa, dormir e sonhar com isso que eu tô sonhando senão a gente num vai poder ter essa conversa. PERCEBERAM O PARADOXO?

farabutto

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Novela é uma das coisas de que o brasileiro deveria ter mais orgulho. Não há em nenhum outro país essa coisa que a gente tem aqui, essa paixão, essa qualidade, essa tradição. Somos mestres. Talvez você seja uma daquelas pessoas que acha que as novelas são uma ferramenta alienadora da sociedade. Se for, por gentileza, moa cacos de vidro e introduza em seu ânus. Você sabe bosta nenhuma de sociedade. Porque a novela é um símbolo de muitos significados no cotidiano brasileiro. Ela interage com a sociedade porque se espelha no brasileiro e é onde o brasileiro se espelha. É só ver o tanto de gírias e expressões que viram cotidianas na nossa linguagem diária. Os temas que a novela aborda são temas de conversa e, claramente, temas aos quais as pessoas passam a dar atenção. Além de ser ela própria o assunto das conversas de tantas mulheres (e alguns homens) que trabalham o dia inteiro ou não mas que têm o direito de descansar a mente e o corpo na frente da tv. Os personagens entram na nossa men

não está tudo bem, arco-íris

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Let's rain in the wet again e falar mais uma vez da pior praga que já assolou a juventude desde tênis com rodinhas: mania colorida de ser. Estou aqui dando minha opinião inteiramente sócio-comportamental, vou nem entrar no mérito musical da coisa porque não é essa a questão. O problema aqui é que estão enganando nossas crianças. Esses meninos que usam calça rosa e laranja e saem por aí espalhando o amor têm uma mensagem superficialmente bonita e libertadora. Porque se você pensar, é legal que a nova geração esteja nessa vibe feliz e alegre depois da era emo. O problema, no entanto, é a sexualidade envolvida na coisa. Coloridinhos parecem viadinhos mas dizem que não são. Amigos, eles são. Talvez não todos (sim, todos são) mas a grandissísima maioria é. E dizem que não são. Mas são. Entenderam o problema? Você fala pra uma geração que it's okay usar rosa e parecer uma menina, mas você nega que seja gay. E as crianças acreditam, ué. Que maldade eles têm? E aí você vê um monte de m

ciúme musical

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Já aconteceu com você, eu tenho certeza. Você um dia estava assistindo um filme russo dublado pro francês legendado em espanhol na sexta aula de ética da faculdade. Sete alunos acordados na sala, os outros 43 dormindo. Inclusive você. Mas seu braço dormiu, te incomodou e você levantou a cabeça pra mudar de lado e nesse breve instante de lucidez, você olha para a televisão 29 polegadas exatamente na hora do filme que está tocando uma música que você nunca ouviu. Uma música boa, francesa. Você entra em desespero porque quer saber de todo jeito o nome daquela música mas não sabe francês pra jogar o ~trecho da música~ no vagalume. Assiste as 4h restantes do filme numas de querer ler o nome nos créditos mas eis que descobre que a professora gravou do TelecineCult e deu stop quando acabou. Ou seja. Aí você chega em casa e fica desesperado procurando no IMDB todas as informações sobre o filme, joga no google algumas palavras-chave, pergunta em 38 fóruns de cinema. Ninguém sabe o nome da músic

Porra, Capricho!

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Com a Capricho eu aprendi que se o gatinho tá te paquerando na balada, você tem que se fazer de difícil. E que para beijar de língua era só enfiar a língua na boca do sujeito e tentar alcançar a guela do mesmo. Também aprendi que se um garoto me encarou a noite toda mas não deu o primeiro passo, eu tenho que ir lá e me apresentar. Daí veio a vida. E a vida me ensinou que quando a gente tem 11 anos a gente nem vai na balada. Me ensinou que quando a gente beija, num precisa pensar em nada, é só tomar cuidado pra num engravidar (porque quando você vê, já foi, filha) e que se um garoto tá me encarando a noite toda e num fez nada é porque ele é gay e ou adorou a minha roupa ou adorou o meu amigo. E a vida também me ensinou que ler dicas de relacionamento é tão eficaz quanto aspirina contra a aids. Porque a vida me ensinou que os caras são sempre inconstantes e por mais mulher perfeita que você seja, sempre vai dar merda até o dia que não der mais merda e aí a gente casa. Agora, quer dar di

saudade não tem no inglês

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Foi em um dia meio feio que eu descobri o que significa saudade. Aliás, achei que tivesse descoberto. Porque eu achei que aquele desespero misturado com choro era saudade. Não era, saudade não deixa a gente triste. Aquilo era tristeza mesmo, pura e simples. Mas só sei disso agora. Até então eu achei que aquela dor era saudade e passei temer a saudade mais do que dia do flúor no Sesi. Cheguei a entrar em choque e voltar de Miami por causa do medo que eu tinha de quando eu sentisse saudade. Ia doer demais, eu não estava preparada pra sentir aquilo de novo. Quem dera eu tivesse sabido da verdadeira saudade antes de abril. Tudo bem, agora eu sei. Agora eu sei que quando a gente sente saudade, a gente sorri. Porque a gente só sente saudade de quem a gente ama e é diretamente proporcional o tamanho da saudade para o tamanho do amor. Quanto mais saudade, mais amor. É óbvio. Tão óbvio é então sorrir cada vez que você pensa em alguém que ama tanto. Tão óbvio é então sorrir por ter alguém que v

3-yeas-old daughter

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Eu não comecei a vomitar um dia e achei estranho. Não fiquei com vontade de joelho de porco nemfazia xixi a cada 16 minutos. Não foi minha bolsa que estourou, não foi do meu útero que ela saiu. Mas eu tenho uma filha. A minha filha tem 3 anos, uma mãe e um pai que criam e educam e alimentam e dão carinho. Mas ela é minha filha também porque só sendo minha filha é que se justifica o amor inacreditável que eu sinto por ela. E ela é tão pequena, ela mal sabe as cores. E sabe pontos de exu, qué dizê. Engraçado perceber que não é só uma questão de simpatizar com uma criança engraçada. Todo mundo simpatiza com ela, você simpatizaria. Porque sério, ela é de outro mundo. Brisa mais que o Bob, fala mais que a nega do leite, lambe as pessoas e tal. Mas não é só brincar com ela de dançar balé, é amor mesmo. De filha. Porque ela ficou doente ontem. E veja você que eu nunca tinha presenciado nada do tipo (e nem presenciei dessa vez, só soube pelo telefone). Derreti de preocupação, fiquei tensa, dor

História da Minha Vida

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Ela: moça de família, estuda ou trabalha, visita a vó nos finais de semana, gosta de comer bis e não trepa há algum tempo. Ele: moço de família, estuda ou trabalha, joga bola com os amigos toda quinta, tem foto com garrafa de vodka importada no orkut. Os dois de repente se encontram pela primeira vez na balada ou já se conheciam e até tinham marcado de sair juntos. Eles bebem como todo mundo, eles se pegam em um canto, eles querem a mesmíssima coisa. Daí no dia seguinte tá tudo meio acontecendo em função de uma ressaca física e moral porque carro estacionado no Extra não é exatamente motel. Segunda a vida continua e as dúvidas começam. Ela fica meio chateada que ele não ligou mas se ele tivesse ligado ela ia ficar meio irritada e ia reclamar que os homens andam meio chicletinhos ultimamente. Ele não liga mas pensa em ligar mas nem sabe por que pensou em ligar. E não liga. Sexta chegou. Ela queria que ele ligasse porque passou uma semana e foi uma semana sem trepar e gente, semana de pr

the magical art of procastinating

Rodolfo acorda todo dia às 6h35 mas só levanta às 6h45, depois que o snooze repete a impiedosa mensagem: chega de dormir. Levanta, toma café, vai sonado para o trabalho. Reclama da vida, reclama do chefe, reclama do preço do quilo, reclama do calor e do frio, reclama do trânsito. Chora toda segunda, se alegra toda sexta. Inveja os ricos e vagabundos que nada fazem o dia inteiro. Como ele queria não fazer nada o dia inteiro... Um dia Rodolfo é demitido. Corte de custos, nada pessoal. Rodolfo se vê em uma tristeza misturada com alegria sem fim. É duro perder o emprego mas olha, seis meses vivendo às custas de mesada do governo nem dói. Ele então decide que está feliz e vai passar todo esse tempo morgando em casa, coçando até fazer ferida. Na primeira semana ele dorme até meio-dia, come trakinas e miojo, assiste tudo que tem na tv e não acredita no tamanho da sua sorte. Que semana feliz. Que semana feliz que já vira uma semana normal na segunda vez. E a terceira já é meio entediante, Rodo