the magical art of procastinating

Rodolfo acorda todo dia às 6h35 mas só levanta às 6h45, depois que o snooze repete a impiedosa mensagem: chega de dormir. Levanta, toma café, vai sonado para o trabalho. Reclama da vida, reclama do chefe, reclama do preço do quilo, reclama do calor e do frio, reclama do trânsito. Chora toda segunda, se alegra toda sexta. Inveja os ricos e vagabundos que nada fazem o dia inteiro. Como ele queria não fazer nada o dia inteiro...

Um dia Rodolfo é demitido. Corte de custos, nada pessoal. Rodolfo se vê em uma tristeza misturada com alegria sem fim. É duro perder o emprego mas olha, seis meses vivendo às custas de mesada do governo nem dói. Ele então decide que está feliz e vai passar todo esse tempo morgando em casa, coçando até fazer ferida.
Na primeira semana ele dorme até meio-dia, come trakinas e miojo, assiste tudo que tem na tv e não acredita no tamanho da sua sorte. Que semana feliz. Que semana feliz que já vira uma semana normal na segunda vez. E a terceira já é meio entediante, Rodolfo já começa a procurar coisas pra fazer em casa: pintar a porta do banheiro, trocar a luz do sótão, essas coisas importantes.
Um tempo depois ele começa a fazer terapia porque anda tendo sonhos horríveis, ouve barulhos a noite, não tem pique pra nada. Não faz mais a barba, não penteia mais o cabelo. Mal toma banho. Mal vive. Rodolfo está perdido e desesperado, Rodolfo está em uma vida sem sentido e sem razão. Rodolfo tenta suicídio.

Querido Rodolfo, a vida de vagabundagem não é pra qualquer um. São raros aqueles que Deus escolheu para colocar na fila do talento para não fazer nada. Você pensa que é fácil ver os dias passar como se fossem o mesmo? Você acha que não exige treino e prática a arte de dormir 12 horas direto sem fazer xixi no meio da noite? Você acha o quê? Que nós que aqui estamos não nascemos com nenhum tipo de dom? Que freelancer não sofre a pressão de ter que trabalhar tendo sua televisão e twitter ao alcance? Acha que qualquer um faz o que nós fazemos?

Mas continuem tentando, Rodolfos do Brasil.
Um dia vocês chegam lá.