to je suis or not to je suis

Je ne suis pas Charlie.
Je fiquei triste pelo que aconteceu, je não acho que nada justifica uma morte, nem duas, nem doze. Je não acho que ninguém merecia o que aconteceu e que foi, de fato, uma tragédia. 
Mas je ne suis pas Charlie, não mais do que je suis crianças paquistanesas, civis palestinos e israelenses, vítimas do tráfico no Brasil. Je me preocupo com todas essas questões mas je não acho que o que aconteceu em Paris foi mais importante. Cinco horas antes do atentado em Paris, um carro bomba explodiu e matou 30 pessoas do Yemen. Je não vi nenhuma hashtag sobre isso.
Je também não entendo o que aconteceu como um atentado à liberdade de expressão. Seria o caso se fosse um jornal Iraniano, por exemplo, ou de qualquer país de maioria muçulmana. E nesses países, o que a gente considera liberdade de nada é muito livre. Em Paris, uma charge zuando o Islã não é uma crítica, é uma zuera. Não chama crítica quando a coisa não tem nada a ver com você, não chama crítica quando o alvo é minoria absoluta. Um jornal francês que só circula na França, onde só 4% os 65 milhões de habitantes se consideram muçulmanos, não está criticando nada, não é uma ferramenta de oposição, uma voz do povo, nada disso. Chama zuera, chama bullying em inglês. Que não deve ser respondido com AK-47 nem em nome de Allah nem em nome de ninguém, né? Nunca. Jamais. Ever. Mas a questão é que foi uma reação estúpida, violenta, desproporcional e injustificável a uma ofensa religiosa, não ao funcionamento da imprensa livre mundial. Você é livre para escrever, o cara é livre para se ofender, ninguém é livre pra matar. 

E quem acha que a violência tem a ver com a religião muçulmana é tão estúpido quanto os extremistas. Religião nenhuma prega AK-47. Ah mas o alcorão- a bíblia também curte apedrejamento então não, não é da religião, é da interpretação extremista e burra de um conceito de milhões de anos atrás. Li um comentário ontem que me fez vomitar um pouco. A americana escrota disse que cansou de tentar se convencer que existem muçulmanos bons, que as notícias só provam que eles não existem. Daora essa lógica. Hitler era cristão. KKK era um grupo católico extremista. Cruzadas. Daora.

"Agora, quando acharem os monstros que fizeram isso, tomara que matem eles. Onde já se viu matar 12 pessoas só porque elas discordam do seu ponto de vista? Tem que meter bala nesses terroristas."
- Galerinha a favor da pena de morte.

Je ne suis pas obrigada.

[UPDATE: eu não tinha lido esse texto, juro! Mas amei, claro! Sensacional!]