Brenão

Desde que eu me entendo por gente e até bem pouco tempo atrás, venho aceitando todos os rótulos que colocaram sobre o que eu falo, penso e como eu ajo (e reajo). Desde sempre eu fui a louca, a escandalosa, a ariana. Peste. Praga. Barulhenta. E isso de alguma forma deslegitimava quem eu era e o que eu fazia, em qualquer situação o que se referia a mim era dúvida. Ninguém tinha certeza de mim, nem eu. Cresci me questionando a todo tempo, de uma forma tão dolorosa e imperceptível que eu só notei agora, quando parei de fazer isso, quando passei a ter mais certeza de mim. Como se eu tivesse tirado aquele sutiã que eu nem sabia que tava me apertando. O alívio!
Isso não tem nada a ver com estar certa ou errada, nem antes e nem agora. Minha teimosia podia ser até irritante, mas eu por dentro estava me questionando. Sobre tudo. Sempre. Minhas opiniões, meus sentimentos, meus gostos, meus desejos. Tudo que eu afirmava fazia nascer instantaneamente a dúvida oposta na minha cabeça. Tem noção do barulho que era a minha cabeça? Nem eu acreditava em mim. E cursar psicologia deu nome às neuras, mas não fez passar. De repente eu me perguntava "xi, será que é repressão? será que é defesa?" e eu não tinha uma aliada em momento nenhum. Deus abençoe a capacidade de se questionar de vez em quando, pra manter os pés no chão e a soberba sob controle, mas o inferno que é não estar do meu lado, era desse inferno que eu queria sair. 
Agora eu aprendi esse truque novo e como todo malabares, às vezes eu derrubo as garrafinhas e me desequilibro pra um lado ou pro outro, mas a cada nova situação mais eu fico do meu lado na minha própria opinião, nunca mais eu perdi de zero, nunca mais passei debaixo da mesa. 
Confio no meu instinto, confio na sabedoria que eu tenho, confio até na minha capacidade de desconfiar, de aprender quando eu errar, de saber que essa amizade não termina no próximo vacilo. Hoje eu sou minha melhor amiga e recomendo a todos que sejam também melhores amigos de si mesmos porque vocês são muito daora assim como eu sou daora demais. 
Pra mim o lance é esse, entre muitos outros lances, a legitimação de mim. 
Descobrir isso não foi fácil com terapia, sem terapia seria impossível. 
Então a conclusão dessa volta repentina ao Pedaço é: terapia urgente para todos. Terapia é tudo de bom!