oh, the irony!

Sempre que acaba a luz a bateria do celular também já tá quase acabando, que é pra foder com a porra toda mesmo. Daí imagine que acabou a luz e a bateria, e não permita Deus que eu morra sem achar uma lanterna nesse dia pra pelo menos poder ler. Imagine que não se achou a lanterna. Não tem mais nada pra fazer. Porque só nessa situação de absoluta inércia é que se pode parar pra pensar de verdade, profundamente. E aí você pensa comigo aqui, que é tudo uma grande ironia. A vida é a pura ironia. São pequenas ironias do dia-a-dia, pequenas coisinhas que nem se percebe. E que formam um todo ironicasso, que é o Universo, que é uma puta zuera.
Olha, que primeiro parágrafo sensato!

Mas eu acho isso mesmo, ironia é filha da lei do retorno, do colhe o que planta e coisa e tal. Tudo da mesma família, aliás, do cuidado com o que você deseja, do as palavras têm poder e do que os anjos digam amém. Tudo que acontece na nossa vida veio de alguma coisa que a gente falou, pensou, desejou, fez, sei lá. E isso é poderoso, né? Faz a gente pensar em pensar menos, querer menos. Ou sei lá, faz a gente ter menos convicção das coisas e aceitar todas as possibilidades sem excomungar nenhuma.

Falo isso por isso: um dia, ou muitos dias, eu odiei a rotina. Era tremendamente contra a vida burguesa, o american way of life, o empreguinho das 8 às 5. Praguejei, Jesus, contra tudo isso como se isso tudo fosse o pior tipo de doença que poderia um dia me acometer: a rotina. E que bela palhaça sou eu aqui hoje, nessa terça-feira que eu nem vi o dia lá fora, não sei dizer nem se fez frio ou calor, rezando e acendendo vela, pedindo pro santo me ajudar a encontrar o que? O empreguinho 8 às 5, a rotininha mundana, a tristeza do final do domingo e alegria da sexta. É tudo que eu mais quero. É o que eu acho que me falta pra encaixar todo o resto, pra tudo que sobra em volta fazer sentido. Pra todas as coisas que depois eu faço eu ter que obrigatoriamente fazer porque eu já vou estar sem o pijama mesmo, já vou ter saído do sofá. Sou eu, a rainha ócio, diva do dolce far niente, finalmente cansando, depois de anos. Cansei. Quero bater cartão. Quero trânsito e até ônibus. Quero restaurante por quilo.

E o anjo da guarda nessa hora? 


*NE: perceba a incongruência da autora ao discorrer sobre querer menos para evitar ironias e ao terminar o texto falando sobre 11 coisas que ela quer.