do amor pelo SUS

O dia que eu peguei os remédios na farmácia do ICESP foi um dia realmente emocionante, meio chocante até. O tamanho da sacola acho que foi a cerejinha do bolo. O ápice de uma emoção que eu vinha sentindo desde o início dessa história toda. Na verdade, é um tipo de gratidão que eu lembro de sentir desde 2009, quando eu tive PTI. Eu lembro de ver minha hematologista se virando em vinte pra tentar descobrir o que eu tinha, se preocupando real comigo, inclusive chorando. E eu pensava que como pode uma pessoa que nem me conhece se preocupar tanto assim? Que coisa maravilhosa. E o fator financeiro, a questão de ser público faz diferença no meu coração porque - claro! é pago com impostos, eu sei - mas meio que é um retorno de uma coisa que funciona exatamente como deveria funcionar. Não é um comércio, não é uma compra. É bonito de verdade, me emociona. E me emocionou mais ainda agora com toda essa coisa do câncer, por isso eu fiz textão. 
Não imaginava que as pessoas iam gostar tanto, fiquei feliz. Mais de mil curtidas, mais de 200 compartilhamentos. Não imaginava também que quase ninguém sabia da minha doença, então foi bom porque agora todo mundo já sabe. Não sou muito dessas de ai num conta pras pessoas porque ai olho gordo que num sei o quê... desde que tudo isso começou eu só sinto pessoas se aproximando, se reaproximando de mim inclusive, pra me fazer bem, pra orar por mim, torcer, me dar força. O poder disso é imensurável. A rede que me conecta às pessoas de todas as partes e momentos da minha vida se fortaleceu, acendeu. É lindo isso.
E aí eu comecei a pensar também sobre o que as pessoas me falam, as que me conhecem e as que não me conhecem. Sobre minha força, minha energia e meu jeito de encarar isso. Daí que eu não me sinto esse ser de luz todo aí não porque eu simplesmente estou provida de todas as ferramentas que eu poderia precisar. Não tô metendo a modesta, não. É que na vida, nem todo mundo encara as coisas da mesma forma, talvez uma outra pessoa que tivesse passando por isso poderia não estar com a cabeça tão tranquila, mas não porque não quer. Isso que eu quero dizer: todo mundo quer passar pelas coisas numa boa, mas as vezes faltam ferramentas. Falta estrutura, falta alguma coisa. Pra mim não falta nada, eu acho. Eu tenho o esclarecimento, uma equipe multidisciplinar de amigas profissionais que me apoiam, eu tenho família, o privilégio de poder continuar trabalhando e poder trancar a faculdade por esse tempo. Eu tenho o religioso, o espiritual, eu tenho a fé. Ter fé é ter sorte, eu tenho sorte. Eu tenho muita sorte. 
E mérito meu, também. Sim, porque não adianta ter as ferramentinhas e não usar, né? Mérito meu de correr atrás de tudo que posso. Mérito meu por enquanto porque tá no começo, talvez piore, talvez eu degringole. Mas talvez não. Talvez eu passe por essa experiência que hoje me traz quase que excitação em termos de o que será que tem nisso aí da vida e eu saia melhor dela sim. E que eu vou sair, já está decidido. 
Nunca sozinha, sempre grata. 
Então, obrigada!