Burnout

A casa andava ligada em tudo, gastando energia por todos os outputs possíveis. Como sempre é, se a gente analisar com olhos sinceros, muito do que era dissipado não precisava ser, eram muitos os ONs e poucos os OFFs. Eis que, ao que todos os avisos foram ignorados, a chave caiu. Tudo apagou, a casa ficou escura.
A energia pulsante já não circula, o barulho cessou e o esgotamento silenciou um zumbido vital.
Vivo agora aqueles primeiros minutos em que os olhos ainda não se acostumaram com o escuro, corpo inerte até que isso aconteça. Mas é exatamente durante esses minutos que é possível perceber a paz que o silêncio trouxe. Sem toda aquela bagunça, de repente eu consigo me ouvir pensar. Começo a perceber que a vida segue do mesmo jeito e que as imprescindíveis são na verdade desnecessárias e, mesmo desligadas, eu continuo sendo a mesma.
Guardo agora essa energia pra mim, me economizo. Sei que a vida assim fica mais sustentável. Quase sinto um medo de precisar religar alguma coisa um dia, como se alguma coisa conseguisse me tirar dessa neurastenia para de novo ver nascer luzes e cores. Mas é só quase um medo, nem pra isso tem força.
A reação histérica da massa sobre todas as coisas, a corrida desesperada pela redenção da culpa acumulada de uma eternidade alienada e a tão óbvia construção do mundinho desconstruído me fizeram derrubar a chave para evitar danos irreparáveis ao sistema.
Quando a luz voltar, que esse esgotamento sirva para aumentar minha conscientização sobre gastos desenfreados de energia. E que eu não me engane achando que se trata de deboísmo. É que foi tanta namastreta que nem eu me aguento mais.