miga minha loca

À eterna dissociação de mim mesma, saiba que eu estou plena em minha recuperação. Melhorando, ou em vias de melhora, quase curada. Talvez não curada exatamente, porque a moléstia que assola minha cabeça muito provavelmente não tenha cura. Ninguém se cura de si, seria loucura. Mas estou em constante busca do controle que te silencia. Você é o grito mudo que acompanha meu desespero, você acelera meu coração e dá ouvidos à minha inconsequência. Você me fode. Ou é a voz do eu fodida. Não sei se é você que me esquenta ou é você que me abana, mas sua presença vive de mãos dadas com todo descontrole.
Com você eu vivo desde que eu consigo me lembrar, e dessa memória que hoje não reconhece o almoço de ontem, parece que isso não quer dizer grandes bostas. Mas quer, você é inesquecível, até pra mim. Você estava comigo dentro daquela casa de madeira que eu escalei, acho que com 2 ou 3 anos de idade. Na praia, confabulando. Nas infinitas situações de medo. No prédio do meu primo, na saída do museu. Grandes crises.
Fui mais ou menos aprendendo que eu não posso te alimentar. Não posso te jogar uma ideia fresquinha do inconsciente que você pira. Me pira. E agora pensando, não sei, talvez seja você quem vai lá no fundo buscar essas coisas. Você parece estar em contato com o conteúdo reprimido, é a sua cara. Mas ainda assim, te conto as coisas e o peito parece aliviar. Paradoxal.
Contudo, ó necessária dissociação de mim, minha busca continua sendo no sentido de te calar pra sempre, ou por sempre. E eu estou melhorando. Mas fique tranquila porque agora eu já sei que não quero te calar, quero só que a gente cante em sincronia.
Sua loca.