a brisa que eu tô vivendo

Vai parecer zuera esse texto porque eu tenho um certo histórico, e na verdade não tem muito problema de parecer zuera. Porque talvez seja. Mas não é. Depende do curso que você faz, dá pra chamar de psicose.
Em um curto espaço de tempo, que eu diria que é menos que uma semana, eu passei por dias extremamente difíceis e esquisitos. Até escrevi aqui, postzinho bem pesado que talvez tenha marcado qualquer coisa de começo da brisa. Acredito que eu tenha passado por muita dor física e literal, dor desesperadora. Eu não sou uma pessoa forte e resistente à dor, eu fico desesperada ao menor sinal e, de repente eu sentia muita dor. Sei lá porque, mas no joelho. E eu sabia que o que tava causando a dor era um remédio profilático que eu tinha começado a tomar, cuja bula não mencionava nenhum tipo de dor mas que eu vivi coisas suficientes pra acreditar nas sensações meio inexplicáveis que a gente tem. São conjuntos de micro-condicionamentos, na verdade, que é bem científico. Ou são processos do inconsciente, pra quem é de Freud. Eu sou de ambos e e eu sabia que era esse remédio. Parei esse remédio. Pasmem que a dor de joelho passou. E além dessa dor física, eu me senti em um estado oficial de depressão. Já falei disso. Foi um tipo de sensação que eu nunca tinha sentido antes, de entrar num buraco de desespero absoluto.
E minha vó morreu.
Racionalmente eu agradeci a Deus, minha vó estava em puro sofrimento. Ela não merecia sofrimento nenhum, meu coração ficou aliviado quando ela se reuniu ao filho novamente.
Mas minha vó morreu.
E no mesmo dia, meu cabelo voltou a cair.

Na minha cabeça, esse combo desgracento reiniciou alguma coisa de tempo e espaço, e também de emoções básicas ou primitivas. Por exemplo, eu senti sono na aula. Mas eu não consegui lidar, eu demorei pra entender o que estava acontecendo com o meu corpo e porque eu tava daquele jeito, daí eu não sabia o que fazer em relação àquilo, me deu um desespero enorme, tão grande que eu fui embora. E era sono. Me deu sono. Mas eu não consegui elaborar o sono. Não era um sono maior do que outras pessoas estariam sentindo, era sono. Outras coisas desse tipo aconteceram, de eu ficar não feliz e não entender que eu tinha ficado na bad porque o cabelo passou a cair mais intensamente. Pausa pra falar que minha mãe e sua praticidade maravilhosa me acalmou de uma forma cavalar.

- mãe, meu cabelo tá caindo de tufo.
- paciência e touca.

Era o que eu precisava. Inclusive, usar touca (agora só pra não ficar cagando o planeta com chuva de cabelos mas eventualmente porque vai ficar feio e falhado) me deu um look diferente que eu gostei mais do que o cabelo curto que eu estava ostentando. Foi uma coisa boa? Tipo. Que bizarro.

Mas toda a questão emocional é doida só que não se compara ao negócio do tempo: o meu tempo tá maior do que o do mundo. Nas minhas horas cabem muito mais coisas do que no das outras pessoas. Eu posso fazer uma infinidade de coisas dentro do meu tempo - e eu faço! Mas as outras pessoas continuam com as horas pequenas. É um vislumbre diferente, que na verdade pode só querer dizer que eu tenho menos coisas pra fazer. Acabei de perceber isso. Acabei de perceber ao vivasso que passou a brisa. Continuo plena nas horas, no tempo. Mas passou. A brisa.

Tá tudo bem.

Eu tava numas de não sentir necessariamente fome mas precisar da energia das comidas. E eu tinha uma ansiedade absurda de pensar na infinidade de combinações que as comidas podem ter e que eu podia fazer e comer. Me dava tristeza de pensar que eram poucas refeições por dia, o que uma pessoa poderia chamar de gula. Pra mim, era desespero. E eu comia como quem entra dentro da alma da comida - isso é top. Não que eu comesse muito em quantidade, mas era meio que transcedental. Normal, comida é bom demais.

Queria dizer que eu saí de dentro da brisa durante o tempo que eu estava escrevendo o post. Foi uma experiência incrível, completamente diferente de tudo que eu vivi. A asparaginase tem um efeito colateral que é alucinação - raríssimo. Estou convicta que tive. Foi horrível.

Obrigada Liz por me ouvir ontem enquanto eu ainda estava na brisa.
Obrigada Bruninha por querer me ouvir e me dar a ideia de postar, o que culminou em eu sair da brisa.
Obrigada Freud, porque foi uma elaboração.

Foi o post mais estranho que eu já escrevi.