diálogo sobre o silêncio

- Escreve.
- Eu não consigo.
- Tenta!
- Não, sério, eu tentei já, não vai.
- Mas qual é o problema? Tá sem assunto?
- Há! Não! Acho que nunca tive tanto assunto na vida.
- Então escreve, ué. Como se você tivesse me contando o que tá acontecendo, você sempre fez isso.
- Eu sei, mas acho que dessa vez é diferente. Não sei...
- Sobre o que você escreveria?
- Sobre mim.
- Uau. E as novidade?
- Não então, mas ia ser uma parada mais profunda sabe? 
- Papai?
- Não.
- Nunca, né?
- Não.
- Pensou num título? De repente ajuda.
- Alguma coisa com silêncio, não sei.
- Silêncio? Você?
- Pois é.
- Que silêncio? Como assim?
- Eu queria ficar silêncio.
- QUÊ?
- É sério, eu queria ficar sem falar. Sem falar nada, tipo um mês sem falar.
- Pra quê?
- Porque eu tô sendo obrigada a falar agora. Eu odeio ser obrigada.
- Quem tá te obrigando a falar?
- A vida, o mundo, a sociedade, tudo. Tudo me obriga a falar e eu queria ficar em silêncio.
- Tipo isolada?
- Não, vida normal. Só que sem falar.
- Você comeu cocô. Sério.
- Eu falo demais.
- Sim. A gente sabe.
- Mas é pra abafar o som.
- Que som?
- Do silêncio.