to burn a thousand trees

Parece papo de pré-adolescente revoltada porque mamãe não deixou ir no show do linkin park, mas não é.
Eu sempre fui uma boa filha. Quebrava o pau com o meu irmão quando era mais novinha, mas é normal. Eu ainda era uma boa filha. Fiz lá minhas besteirinhas de vez em quando, aprontei um pouco mas, de forma geral, eu fui uma boa filha. Sempre boas notas, sempre brincadeiras saudáveis. Fiz cursinho durante a oitava série, passei numa escola técnica cuja concorrência era de 10 pessoas por vaga. Fui bem nessa escola, passei no técnico de química. Estudava das 7h às 17h do outro lado de São Paulo. Três horas de trânsito pra voltar. Final do terceiro ano eu tinha provas finais do colégio, provas finais do técnico e vestibular. Passei em tudo, inclusive no vestibular.
Ah! Mas a faculdade é particular. Uma das melhores faculdades de comunicação do PAÍS, mas particular. Pois eu arranjei um emprego em química e paguei a faculdade. Depois fui pra Cultura, continuei pagando a faculdade e ainda fazia inglês. Trabalhava sábado sim, sábado não e os que eu não trabalhava, eu ia pra estudar pro CAE. Quando meus pais resolveram dar algum presente bacana pra mim e pro meu irmão, ao ivés de pedir drogas, roupas ou um celular novo, eu pedi pra eles pagarem a prova pra mim. Pedi A PROVA! E passei! Em média 30% das pessoas que prestam, passam. E eu passei.
Ralei na Cultura até quase infartar. Saí da Cultura porque eu não traí meus princípios. Arranjei o melhor emprego do mundo duas semanas depois. Demorei até entrar em outra empresa porque nada mais parece bom depois que você trabalha com recreação. Mas entrei. Para continuar pagando a faculdade.
Eu sou educada, eu falo direito, eu leio livros por livre e espontânea vontade, eu faço freela para ter um dinheiro a mais e tomar cerveja com os amigos, minha balada é sair pra conversar e um sambinha de vez em nunca. Eu nunca cheguei bêbada em casa, eu nunca dei vexame em festas de família. Eu passo roupa, eu limpo a casa, eu lavo louça.
Em todos os lugares que trabalhei eu era elogiada. Eu sou competente e, de quebra, engraçadinha. Todos os trabalhos que a gente faz na faculdade de alguma forma se destacam dos demais. Eu sou inteligente. Eu tenho noção das coisas. Eu sou uma porra de uma boa filha!

Mas eu erro uma vez...
Errei feio, eu confesso. Não foi de propósito, não foi por mal, mas foi feio. Eu peço desculpas de coração. E não adianta nada...
É como se eu fosse aquela criança problemática que cospe no professor, que foge de casa, que rouba os coleguinhas na escola, que vira punk, que arranja namorados estranhos, que odeia a família, que não estuda, que não quer nada da vida.
Adiantou ter esse currículo? Na hora que caga, todo mundo é Maria Madalena.
E dá-lhe pedrada.