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Showing posts from July, 2020

Sete Anos

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Todo dia eu rezo e agradeço, peço proteção a mim e aos meus, e peço na minha oração pelos que se foram, pra que eles recebam nossa saudade em forma de luz. Peço pela Tata, o pai, a vó, o vô, a tia, o tio, a outra vó, o Roberto, a Lidi, o Marcelo e agora o Bombom. Você escuta, será? Ou é outro departamento que recebe? Mas a luz chega, em meio a um monte de dúvida, disso eu tenho certeza. O tempo me deu certeza de algumas coisas também, das coisas que estavam em mim. De lá pra cá a panela do amor cozinhou muita coisa, o caldo engrossou, ficou uma delícia. Aprendi demais, dos dois jeitos que se pode aprender. Conheci muita gente que eu queria que você conhecesse, também acho que você conhece. Só isso explica a mais recente contratação do céu, vontade de resenha. E cada vírgula daquela lista rendeu demais, choro demais, dias nebulosos. Raiva de Deus, treta com Orixá, aqui tem padre em depressão, quem sou eu pra perdoar? Quem sou eu pra negar a origem natural de todas as coisas, quem sou eu

para Júlia

Eu não quero mediar essa briga, até porque eu acho que você tem razão. E não tenho em mim as forças necessárias pra buscar a paz, também sou pura combustão. Cada vez que você me lembra do ódio, eu me lembro de esquecer do perdão. Você faz tanto por mim, eu quero retribuir. A gente brinca de ser a mesma mas cabe um mundo dentro de nós, cabe muito de você em mim, cabe muito de mim em você. Então me escute também, me deixa te lembrar que o amor compreende tudo sem entender nada, e cabe dentro do pote também a raiva que a gente sente de amar assim. O Rafa falou tudo, que o amor é do tamanho da dor que ele faz a gente sentir.  A fé é dessas também e não sei quem é que tá dentro de quem. Não sei se precisa amar pra ter fé ou se a fé é uma forma de amar mas hoje a gente tá misturando tudo, então um é outro e o outro também é. Toda essa volta pra falar que cabe raiva dentro da fé. Que você tá puta com algo que existe e mesmo a maior decepção é filha da expectativa que mora aí no coração. Jú

meu corpo de verão

meu corpo nunca foi meu, nenhuma mulher é dona do próprio corpo. a gente nasce com regras feitas por outras pessoas e eu pouco pude opinar nesse tempo todo. meu manual de instruções é diferente do seu, minhas restrições são maiores. tudo que é de mulherzinha é ruim, tudo que é de macho é proibido pra mim. mas ' toda mulher nasce de outra mulher por isso são fortes duas vezes', uma pra mim e uma pra você. a gente tem que ser duas vezes mais forte pra carregar o peso do sexo frágil, que não é nosso. nesse peso, boa parte desse peso, é a gente carregando o fardo de não podermos ser senhoras da nossa própria casa, não podermos habitar o nosso próprio templo sagrado. sempre foi assim! mas ultimamente tem sido menos, a gente começou a perceber a dor do espartilho esmagando nossos prazeres mais simples e originais, esmagando nosso amor próprio.  . todas as mulheres que eu conheço querem mudar alguma coisa no seu próprio corpo, da mais magra à mais gorda. tem tanto 'antes'

Para Maíra

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Uma coisa que eu percebi desde o primeiro contrato no navio é que nada se compara à força das amizades que nascem a bordo. No desembarque a gente se afasta um pouco fisicamente, claro, mas a gente se encontra e é como se ainda estivéssemos almoçando no staff mess - e com todo mundo é assim, mas com você é mais. Sempre foi mais.  Vivendo uma vida inteira em três meses, dividindo cabine e histórias, chaves e segredos, crescendo vertiginosamente, a gente construiu um laço tão absurdo que é mesmo como se eu tivesse uma irmã gêmea que mora no Rio (inclusive meus pais te olham como filha). E eu posso viver 200 anos, nunca vou esquecer que da primeira vez que falaram que a gente era irmã, eu bem escrota fiz uma piada que te desmereceu. Tive pouquíssimos arrependimentos nessa vida, de cabeça assim eu lembro de dois. Esse foi um. E já que não dá pra voltar no tempo, peço perdão e digo que estou eternamente te devendo uma breja por esse vacilo. Assim a gente precisaria se ver todo dia pra eu

lili cantou

Caralho, que medo. Quando a gente pensa que a liberdade é o contrário de prisão, fica mais fácil querer. Pro Foucault todo mundo é prisão. O ato falho disse que segurança é controle, dá tudo na mesma. Que medo de soltar. Aqui tá tão quentinho e confortável, que ímpeto é esse que veio me encher? Talvez não esteja tão quentinho, talvez eu seja cega de um olho. Que medo de ir lá fora e descobrir que o mundo acabou, que medo de ver como é que o mundo foi inventado, que medo de pegar o lápis na mão pra eu mesma pintar de rosa o oceano azul. Que medo do branco. De todas as mentiras que o branco contou, me enrolou, que vergonha de ter acreditado. Que medo de olhar no espelho e descobrir que eu não existo mais. O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade? Se estou na solidão pensando em o quê? A carta dos pássaros seguida da carta do caixão - ou da foice? Eu não existo mais e vou ter que começar de novo. Eu não existia mais e comecei agora. Antes eu era o quebra-cabeça de Dona Cila, agora