lili cantou

Caralho, que medo. Quando a gente pensa que a liberdade é o contrário de prisão, fica mais fácil querer. Pro Foucault todo mundo é prisão. O ato falho disse que segurança é controle, dá tudo na mesma. Que medo de soltar. Aqui tá tão quentinho e confortável, que ímpeto é esse que veio me encher? Talvez não esteja tão quentinho, talvez eu seja cega de um olho. Que medo de ir lá fora e descobrir que o mundo acabou, que medo de ver como é que o mundo foi inventado, que medo de pegar o lápis na mão pra eu mesma pintar de rosa o oceano azul. Que medo do branco. De todas as mentiras que o branco contou, me enrolou, que vergonha de ter acreditado. Que medo de olhar no espelho e descobrir que eu não existo mais. O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade? Se estou na solidão pensando em o quê? A carta dos pássaros seguida da carta do caixão - ou da foice? Eu não existo mais e vou ter que começar de novo. Eu não existia mais e comecei agora. Antes eu era o quebra-cabeça de Dona Cila, agora eu tenho que montar sem rejunte. Que medo, caralho. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho dorme. Que medo de conhecer quem é que me come. Que medo, que fome.