lições de uma temporada

Um dia, logo no começo da temporada, da minha primeira temporada, tinha uma menina e uma mulher conversando perto de mim. Elas eram cantoras, dividiam cabine e falavam sobre um sabonete. Tinham que comprar um sabonete porque as duas coincidentemente esqueceram de trazer, estavam tomando banho com shampoo há 3 dias. E eu, na minha primeira temporada, desconsiderei que haveria a possibilidade de encontrar um mercado no meio do caminho e levei tudo para durar 3 meses. Então eu tinha bastante sabonete. Disse a elas que daria um sabonete. E elas não me conheciam, eu não conhecia elas mas pô! Eu tinha muitos sabonetes...
Mais tarde, naquele mesmo dia, levei no teatro um sabonete pra elas, que estavam ensaiando. Ficaram extremamente agradecidas com a minha generosidade e eu fiquei extremamente inconformada com os agradecimentos delas porque, gente, é um sabonete!
Hoje, aquela menina e aquela mulher são duas das minhas melhores amigas. Das que eu vejo de vez em quando, falo de vez em quando, mas amo e sou amada o tempo todo. O tempo todo.

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Me disseram que eu ia morar com uma carioca. Era essa a informação que eu tinha, que eu ia morar durante três meses com uma carioca. Dormir, acordar, viver e conviver com uma carioca. Nascida e criada no Rio de Janeiro, gente, uma carioca de verdade. Da gema, seja lá o que isso queira dizer. Você aí de casa que é paulista e preconceituoso que nem eu, pode calcular meu desespero né? Carioca.
Só que quando eu nasci, mamãe me deu banhinho de trevo de quatro folhas. Porque tem mais de 6 milhões de cariocas nesse mundo e eu fui morar com a mais legal, mais simpática, mais compreensiva, mais paciente, mais engraçada, mais doente de todas. Eu ia morar com uma carioca sim, mas com a melhor da safra, que seria perfeita se não fosse os bishcoitosh e o que horash tem? :D
E quanto eu aprendi com essa menina! Não só a lição número 1 que é nem todo carioca é cretino, só a maioria. Aprendi que a impaciência e o stress podem me transformar num monstrinho e que esse monstrinho seria largado num canto do mundo se não houvessem pessoas como aquela carioquinha. Aprendi como é difícil assumir os erros que a gente comete e como é difícil pedir desculpas de coração. Aí aprendi que fazendo isso, assumindo e pedindo desculpas, a gente ganha amigos pra uma vida, corações ligados por uma ponte-aérea mágica e eterna. Mas a lição mais importante que eu aprendi (aprendemos juntas) é: se você usar a mesma meia por 23 dias, sua cabine vai feder de uma forma que não tem Bom Ar que vença. 



Moral da história? Não regule sabonetes e não odeie todos os cariocas só a maioria.