inferno astral anual

A menina já tá lá falando besteira de novo. Se enfurnou no quarto e não quer sair por nada. Ela tá sozinha em casa, né? Vai sair pra quê?
Fica ouvindo aquelas músicas do cara que grita e do outro que fala rápido. Come pouco e depois se entope de remédio. Mas também, diz que a gripe dela não passa.
Acordou hoje com um mau humor que não lhe é peculiar. Lembrava muito aquelas fases bestas que ela sempre tem. Disse que queria beber de hoje até dia 11. E que não podia beber porque tava sem dinheiro.
No ônibus, uma hora e quinze olhando pro nada e pensando. Não cansa de pensar, a infeliz. E não consegue decidir o que vai fazer, o que quer fazer nem o que vai jantar. Que tanto pensa? Qual a dúvida, porra?
Passou a aula toda escrevendo. É uma de gastar papel que eu nunca vi. Ela diz que faz parte. E que o caderno é dela, se ela quiser por fogo nele, ela põe. A menina é um primor de fineza né?

Bom, não sei. Ela diz que é inferno astral.
Eu digo que é frescura.
Mas coitada, dá até pena...