O Divã III - O Retorno da Rainha

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- Boa noite, moça. Como é seu nome?
- É Natália. E cadê o outro doutor?
- Ah, ele tirou umas férias.
- Férias? Em abril?
- Hum, é. É uma licença na verdade.
- Sei... endoidou né?
- Heh. Então Natália, pelo jeito não é a primeira vez que você vem aqui né?
- Não, não é minha primeira vez. Mas eu espero que você seja carinhoso como se fosse.
- O quê? Ah! Haha... sim, uma piada. Certo... e o que te traz aqui?
- Bom, uma série de coisas na verdade. Dúvidas sobre a carreira, problemas financeiros, afetivos... fora que eu faço 20 anos daqui 8 dias, né?
- A famosa crise dos 20. É normal... mas me fale então primeiro sobre as suas dúvidas sobre a carreira. Você faz faculdade?
- Faço publicidade. Estou no 3º ano, adoro a faculdade mas não sei se é isso que eu quero. Porque as coisas normalmente caem no meu colo sabe? Só que ultimamente num tem sido assim. E aí eu me pergunto se eu vou ser capaz de batalhar pela minha carreira.
- Mas independente da carreira que você escolha, tem que batalhar né?
- É, mas isso é chato.
- Bom, ninguém nunca disse que seria legal.
- Hum, verdade. Não tem jeito né?
- Acho que não, nat.
- Nat? Que íntimo.
- Ai, perdão. Eu tenho a péssima mania de chamar as pessoas por apelidos.
- Magina, eu tô brincando. Não precisa ficar vermelho! Haha... loiro quando fica vermelho, fica cor de rosa.
- É, e o óculos embassa.
- Hahaha é verdade.
- Mas voltando ao assunto. Problemas financeiros? Se envolveu em algum empréstimo?
- Na verdade não. O que acontece é que eu parei de receber salário depois que eu saí da cultura, mas continuei bebendo. Então, o saldo foi ficando mais vermelho que sua cara.
- Entendo. A dívida é muito grande?
- Até que não, mas eu não tenho muita perspectiva de zerar, entendeu?
- Veja bem nat, o banco tem milhares de clientes. Eles não vão falir por causa do seu débito. Quando você puder, você cobre. Por que a pressa?
- É que eu não gosto de dever nada.
- Por que?
- Ah, é uma sensação ruim.
- Então ocupe a sua cabeça com outras coisas e esqueça disso. Ficar pensando não vai fazer brotar dinheiro na sua conta.
- Isso lá é verdade.
- Viu?
- Tem razão doutor.
- E agora, por último, problemas afetivos. Sempre tem né?
- Sempre!
- Amor não-correspondido?
- Mais ou menos. Tem um menino que meio que não sai da minha cabeça. Não que eu fique imaginando casar com ele, ache ele perfeito ou essas bobagens. É uma coisa um pouco mais... digamos, carnal.
- Ah claro! Entendo. Mas ele não quer nada?
- Na verdade acho que até quer. Mas mora longe. Aí complica. E tem um outro menino.
- Outro?
- É, esse meio que tá semi apaixonadinho por mim. Mas não por mim, por uma idealização que ele tem de mim.
- Como assim?
- Ele acha que eu sou a mais maravilhosa das pessoas. Só que não é bem assim.
- Não?
- Não... eu tenho muita coisa em comum com ele, isso é fato. A gente se dá bem. Mas eu não sou essa santa que ele acha.
- É, você não tem cara de santa.
- Obrigada pelo "puta".
- N-não, v-você n-não entendeu...
- Caaalma doutor loirinho, eu tô brincando!
- Ufa...
- Então, ele acha que eu tenho uma mente super evoluída, que eu não sou dessas que sai por aí beijando qualquer um. Mas meio que eu sou assim sim. Se eu vejo um cara bonitinho... tipo você assim, eu metralho mesmo!
- Como assim metralha?
- Assim... doutor, tem uma coisa no seu olho. Pera, deixa eu tirar pra você...
- O quê? Opa! Nossa...




...




fim.