burrice paradoxal

Pessoa é que nem comida: depois que tá pronta, ninguém muda. Se colocar sal, melhora. Se colocar curry, piora. Pessoa melhora ou piora, pessoa não muda. Só se cortar o cabelo ou 15kg do corpo, daí muda. Mas vai sempre colocar shampoo demais e ter siricutico com cheirinho de McDonald's. Ninguém se cura totalmente do que é.
O mundo tenta, o mundo insiste. As pessoas aconselham e dão bronca mas elas sabem que nem não adianta tentar mudar o amiguinho nem não adianta tentar mudar o que se é. Então porque já sabem disso, deviam parar de tentar. E se não sabiam, agora sabem: não mudam.
A coisa é meio da loteria divina e faz parte do mistério da criação. A pessoa nasce burra e vai ler mais que a Bela da Fera, mas vai continuar sendo burra. Sempre. Aqui o mistério é que: por que eu sou burra? A pessoa se pergunta. E a pessoa vai se achar inteligente e vai querer mudar o ser burra que é. Mas é burrice tentar mudar a pessoa. É burrice paradoxal.




Mas tem a parte boa que é que a gente aprende tudo que tem porque, afinal, sempre foi assim. A gente aprende que se do jeito que é vai sempre ser, burrice sólida, então que seja do melhor jeito. A gente aprende a gostar da própria existência, a gente começa a se amar. Na saúde e na burrice.
E diz-se que só em paz estaremos com o mundo quando em paz estivermos com nós mesmos. Isso significa aceitar que se é burra, tomar sopa batida de legumes e ir dormir, com a alma lavada de perdão e hard feelings-free. Dormir feliz, como há muito tempo não dormia, de burra que sou.