carpe odiando

A gente quase sempre fala de um jeito meio arrogante, meio superior, como se a gente soubesse de uma coisa que vocês não sabem. E os filmes que fazem sobre a gente quase sempre são mais legais do que os que fazem sobre vocês. Mas saibam que nem tudo são flores e a gente passa por várias fases de inveja pura dessa vidinha pacata e sistematizada que vocês têm; em mim essas fases vão e vem de 9 a 11 vezes por dia.
Queria eu ter a vida que supera a tristeza da segunda só com a força que vem da alegria de sexta. Queria eu sentir a verdadeira liberdade do final de semana e não morrer com a ideia de 20 dias de férias por ano. Queria eu gostar da vida normal a ponto de não largá-la jamais, de pensar a longo prazo e responder onde eu me imagino daqui 5 anos sem rir. Queria eu me imaginar daqui 5 anos.
A inconstância poética que se vê nos álbuns viajados desse nosso facebook é motivo de crises existenciais fortíssimas, muito piores do que as que as vezes vocês têm no meio do trânsito. Vocês se questionam de como seria se vivessem em um outro mundo, mas aí o farol abre ou celular toca. E acabou. A gente não, a gente viveu nos dois mundos e metade de nós ficou em cada um, de forma que estamos sempre incompletos e falamos de nós mesmos no plural.
As vezes eu penso que é uma questão de maturidade, que me falta crescer. Depois vejo uma foto do sorriso que eu tinha e já não acho a maturidade tão necessária assim. Mas também lembro da dor da saudade que me acompanhava quase sempre. E lembro que ela só mudou de nome quando o avião decolou.
Penso em 10 vidas e 10 empregos diferentes que me fariam tão feliz! E depois penso que já tenho um emprego, que é o mais bacana que eu poderia conseguir. Me dá vontade de chutar o balde com a certeza do arrependimento batendo em mim antes do balde no chão. Vivo presa na eterna indecisão flutuante de momentos de felicidade pacata e depressão de longo prazo. Morro com o medo de que o futuro nunca supere o passado incrível, mesmo sabendo que ele sempre superou. E nesses altos e baixos da vida, que saudades eu já sinto da subida.