Umbanda for Dummies

Hoje é dia de Ogum, um daqueles dias quando todo mundo é um pouco umbandista/candomblecista e sente essa conexão forte com o Orixá, que nem no dia de Iemanjá e quando o povo pula 7 ondinhas. Não tem problema não, viu? A umbanda tem dessas de abraçar todo mundo de todas as religiões, pode curtir uns dias de macumbeiro que é gostoso demais mesmo, a gente entende.
Apesar de ser uma umbandista fora do armário, o que infelizmente é um privilégio que muitos irmãos de fé não têm por conta de preconceito no trabalho ou na família, eu tenho muito cuidado pra falar de religião com as pessoas. Não quero nunca passar a impressão de estar impondo minha opinião sobre qualquer outra, porque religião é isso, é opinião pessoal. Eu escolhi louvar Deus e me conectar com a espiritualidade desse jeito específico, chamar essas energias desses nomes específicos, meu Ogum e seu São Jorge, tudo é sincretismo. Você aí de casa se quiser chamar de Allah, gnomo, big-bang-theory, sei lá, faça como achar melhor e se achar melhor não faça. 
Mas.
Né?
Aproveitando esse dia de sol bonito e sua inclinação a falar do assunto hoje, resolvi fazer um breve guia de Umbanda pra você que nunca jamais pisou num terreiro ou que já pisou e não entendeu foi nada. Toda informação aqui contida tem como fonte as vozes da minha cabeça misturadas com algum conhecimento técnico que eu adquiri mal e porcamente ao longo da minha vida de macumbeira, tá? É um brevíssimo resumo resumidíssimo e me perdoem todos os planos pelos erros que eu porventura cometa. Bora.

Quero começar falando do termo macumba, que é tipo quando você passa o dia chamando seu irmão de topeira mas se alguém de fora chama ele de topeira, você fica putassa, sabe? Só você pode? Então, macumba é um termo meio assim pra algumas pessoas. Não pra mim. Macumba nada mais é do que um instrumento de percussão que era usado nos primeiros terreiros do Rio de Janeiro, onde nasce nossa querida religião. Então sei lá, tem que se esforçar mais pra me ofender. Pode chamar de macumba, macumbeira, terror das galinha, de linda, sei lá.

A Umbanda nasceu em 1908, de um jeito meio protestantismo só que sem romper de vez com os primos. Era uma sessão espírita - e no espiritismo não se trabalha com algumas linhas espirituais - e o mocinho de 17 anos Zélio de Moraes, que estava lá pela primeira vez por ter tido uns ataques inexplicáveis uns dias antes, incorporou um espírito que se chamava Caboclo das Sete Encruzilhadas. E disse: coé! (porque era no Rio) já que aqui não pode colar geral, amanhã às 20h estaremos na casa desse cavalinho pra um rolêzinho diferente, quem quiser aparece, leva o que for beber. 
Não tenho certeza se exatamente com essas palavras mas a mensagem foi tipo essa. Cavalo é o médium, a pessoa que empresta seu corpo pros espíritos falarem e trabalharem. E assim, no dia seguinte o Caboclo voltou e nasceu a Umbanda, pra fazer um trabalho meio parecido com o do espiritismo mas de um jeitinho mas Brasil, assim. Menos europa. Com caboclos, que são índios, pretos velhos, que são escravos, malandros, exus, pomba giras. Enfim, geral mesmo. Com tambores, que são os atabaques, e - tadã! - macumba!

"Com os mais evoluídos aprenderemos; aos menos evoluídos ensinaremos; mas a nenhum renegaremos amor!"(Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do Pai Zélio)

Não vou falar de teologia porque essa é a aula 2, vou falar mais ou menos do que rola em um terreiro só pra você que tem medo ver que num tem nada demais, e mesmo quando tem (porque tem) fica sempre tudo bem.

Um terreiro é um lugar protegido onde os médiuns vão primeiramente para preparar o corpo e a mente para receber os espíritos, entender o que é a vibração e como deixar entrar, quando deixar entrar - que é muito importante pra que não aconteça nenhum acidente no meio da rua rs. E quando começam a receber esses espíritos, podem então atender as pessoas, os consulentes, que buscam auxílio em questões de saúde, emprego, amor, coisas que eles nem sabem, conselhos, puxões de orelha, desabafar, pra serem ouvidos e muito mais. Essas pessoas, os consulentes, podem ser de qualquer religião ou de nenhuma religião, de qualquer cor, raça, pode ser gay, pode ser traficante, banqueiro, padre, prostituta, professora, militar, rico, pobre, alto, baixo, feio, qualquer pessoa mesmo, real. E o mais importante: essas pessoas NÃO DEVEM PAGAR NADA. NEM 1 CENTAVO. NUNCA. NEVER. Por isso que chama trabalhar na caridade. Existem festas ou eventos específicos que se cobra as vezes um ingresso pra pagar algum custo específico daquele evento específico mas o trabalho do dia a dia SEMPRE é gratuito. SEMPRE.

- Tá mas e a pessoa amada em 3 dias?

Existe gente boa e gente perdida em todas as religiões. É possível sim trabalhar com energias que prendam pessoas ou até que prejudiquem pessoas. Isso existe. Mas MEU AMIGO, o carma negativo que isso gera pra você e pra quem fez o trabalho é tão grande, que eu diria que no mínimo não vale a pena. Supera essa dor de corno aí, não queira o mal de ninguém não, cuzão. Mas existem sim centros ou pessoas que fazem esse tipo de trabalho, infelizmente. Dão uma fama erradíssima pra minha religião que é tão linda e tão pautada no completo contrário disso. Mas como diria uma grande filosofa amiga minha: ¯\_(ツ)_/¯

Bom, aí beleza. No terreiro então a gente tem a dirigente, que é conhecida por Mãe de Santo (ou Pai) e tem as Mães e Pais pequenos. Que é tipo a diretora e as vices. Ou algo do assim. Eu, pra quem não sabe, sou Mãe Pequena e isso quer dizer que se um dia eu quiser ter um centro (eu quero), posso ser dirigente. Marcas que quiserem doar um espaço em Santos manda inbox.

Aí tem os Ogãs, que são as pessoas que tocam os atabaques e cantam as músicas. As músicas, que chamamos de pontos, tem uma importância vital para o trabalho porque colocam as energias de todo mundo nas mesmas vibrações e a coisa flui. A gente começa a saudação por eles, pra que a partir daquele instante os atabaques fiquem online no mundo espiritual também. Depois a gente saúda a defumação, que é pra limpar o terreiro e as pessoas todas de espíritos que possam atrapalhar o trabalho (depois a gente encaminha eles no final, relaxa). Aí a gente abre o trabalho propriamente dito, saudando o altar, Olorum (que é Deus), Oxalá (que é Jesus), as Sete Linhas de Umbanda (as sete vertentes da energia de Olorum) e a Esquerda, que é super polêmica mas nada mais é do que nossos broders que trabalham com uma energia muito mais terrena, pertinho da gente. São espíritos de luz também, e fazem o bem que tem dentro do seu coração. E tomam uma cachacinha, o que torna tudo mais divertido.

Daí as pessoas são atendidas dentro das suas necessidades e merecimento. Os guias podem trabalhar pelas coisas que você pede mas óbvio que não é garantido que você vai ter porque tem o lance da necessidade & merecimento. Mas caminhos são abertos, agilizamos o processo se for o caso. O consulente também passa por uma limpeza, que é quando aqueles encostos que você traz são encaminhados pra onde têm que ir. Às vezes ele tava tão parasitando você que quando ele sai você sente falta, passa mal, se sente estranho, é normal. Alguns deles (muitos) sabem pra onde você tá indo quando você vai pro terreiro e entram em desespero. Nessas você bate o carro, fura o pneu, o ônibus quebra, você perde a hora, esquece o guarda chuva, o cachorro te morde, e mais uma infinidade de B.O's podem acontecer pra evitar que você chegue ao terreiro. Se acontecer isso com você, aí que você tem mesmo que ir, tá? Não desista.

E aí rola um lance de equilíbrio também, pras suas energias saírem no esquema. Você talvez chore sem saber porque, talvez receba um recado que nada mais é do que coisa que você já sabia e não queria ouvir, talvez você só ouça que é uma pessoa massa demais e continue assim. De qualquer forma, é bom.

De vez em quando rola uns perrengue, uns encostos desses que o povo traz (que a gente chama de Egum com E) incorporam na pessoa desavisadamente e rolam uns gritos umas coisas caindo no chão, baba, sei lá. É meio assustador da primeira vez mas depois você acostuma e aí todo filme de terror perde a graça pra sempre ("magina gente é só encaminhar"). A gente encaminha, relaxa.

As linhas são diferentes porque as energias em que elas vibram são diferentes. E como são formas que nós humanos nunca vimos, não temos como representar. É como pensar em uma nova cor, impossível. Então cada energia assume uma forma de coisas que a gente sabe representar, tipo quando você sonha com um bidê voador listrado que canta Henrique e Juliano, porque não consegue representar aquele trauma. E a escolha dessas formas vai um pouco no que a maioria de fato foi, mas nem sempre segue isso. Por isso temos baianos, marinheiros, crianças, caboclos, escravos, ciganos. Alguns desses espíritos eram assim quando encarnados, outros nunca encarnaram mas são da mesma faixa vibratória. Sacou? E cada espírito é um espíritos, mesmo que eles se chamem pelo mesmo nome. Você vai ser atendida por mim, pelo meu Exu Tranca Ruas. E em outro centro ao mesmo tempo também tem um Exu Tranca Ruas - QUEM ESTÁ MENTINDO? kkkkkkk aquelas. Mas ninguém está mentindo, o meu Exu é UM Exu Tranca Ruas - e para saber mais, leia outros livros senão esse post vai ficar enorme.

Enfim, o que eu quero dizer com esses 11 fascículos é que a Umbanda é top, só tá aqui pra ajudar qualquer pessoa que queira e se você tiver curiosidade ou quiser saber mais, eu tô sempre disponível para conversar. E quando tudo isso acabar, estão mais que convidados para conhecer o Mestre Zartur (se liga nesse vídeo MASSA pra ter uma ideia), e no futuro, meu centro que um dia virá.

E essa arte foda que ilustra esse post é de um artista que eu sou fã demais, o Senegambia. Siga no instagram se quiser, se não quiser não precisa.