O Vestiário

Eu não tenho a intenção de retratar um momento do jeito que ele aconteceu pois seria algo totalmente inútil de se fazer. Você não saberia o que eu senti nem que eu fosse a melhor escritora do mundo. E mesmo que de alguma forma eu te fizesse entender, não valeria a pena. Sentir foi a melhor parte.
Também não quero fazer propaganda, apologia, alarde nem escândalo. Não quero que todos saibam, só quero falar. Só quero que eu saiba, que eu lembre daqui um tempo tudo o que se passou. Porque os detalhes se perdem no tempo e são justamente eles, os detalhes, que eu quero lembrar. Isso porque as coisas mudam muito rápido e um dia eu posso estar puta comigo mesma por ter me sentido assim meio idiota. Aí eu vou lembrar dos detalhes e vai ficar tudo bem. Ou então eu vou querer saber quando foi que a vida ficou boa de repente e vou saber que foi aquela noite. Aquelas noites.
Só quero dizer então que começou com a mordida e ali eu já sabia que a briga ia ser feia. A intensidade, velocidade e rumo das coisas foram exatamente como deveriam ser e surpreenderam por serem tão certas. E erradas. Locais públicos. Cala a boca, puxa o cabelo e um tapa. Puta que pariu. Depois, uma precisão inacreditável, que eu achei que nunca mais ia parar de tremer. Fiz questão de perceber cada segundo porque eu sabia que seria de rara repetição. E eu tenho certeza que foi recíproco, mesmo que só ali. Puta que pariu.
Agora não pense você que isso tem alguma coisa a ver com qualquer coisa, porque não tem. É a carne escrevendo aqui. A mais fraca das carnes. Puta que pariu.