the dying material

Eu vou ser bem sincera com vocês, eu tenho muito medo de morrer. Não porque eu temo o que vá acontecer com a minha nobre alma ou coisa do tipo. Nem acho que vai doer nem nada. Mas gente, eu sou muito o tipo de pessoa que morre, sabe?
Porque pensa, meu velório. O que as pessoas diriam? Que eu era a alegria dos lugares que eu ia, que eu estava sempre de bom humor, que eu era especial com aquele jeitinho só meu. Que era meio maluca com essas coisas de recreação. Ai, Natália, só ela mesmo né?
Num ia ser essas coisas? E isso num é bem o tipo de coisa que as pessoas falam em funerais de gente bacana que nem eu? Cara. Sério. Eu vou muito morrer logo.
Até porque, vamos lá. Vamos encarar os fatos. Você aí de casa já me imaginou casando? Tendo filhos? Tendo um emprego normal, virando gente? Não, né? Nem eu. Porque eu acho que eu sou muito intensa, muito over na vida. Porra, eu tenho 22 anos e já tenho história pra contar por mais 22. Já vi e vivi quase tudo que as pessoas normais viveriam em 70 anos. Só num dei o cu, de resto... Então eu acho que num futuro não muito longínquo as coisas que eu tenho pra fazer vão acabar. Missão cumprida. Aí eu morro de uma morte bem estúpida, tipo aquele cara que tava andando na rua e caiu uma árvore na cabeça dele. Caiu uma árvore na cabeça do cara, você num acha que ele cumpriu a missão? Tchau, beijo.

Agora eu quero que vocês prestem muita atenção, caso eu de fato morra jovem e esbelta como sou agora. Começo por aquela história de ai, quando eu morrer eu não quero ninguém chorando. Ninguém chorando o caralho! Quero todo mundo em prantos, chorando de se acabar porque gente, Deus me fez e jogou a forma fora (até porque né?)! Quero geral soluçando por MESES de tristeza. E ai do cara que disser ela num ia querer ver a gente triste. Esse é o primeiro que eu vou visitar a noite. Pra matar a saudade? Não, pra abrir e fechar a porta do quarto dele num dia sem vento. Pro nego se cagar nas calças mesmo. Portanto, chorem. Muito.
Outra coisa, esse negócio de doar os órgãos: manda vê. Doe até meu reto. Só não doe minhas unhas do pé porque ninguém merece esse castigo encravado e micozento que eu chamo de unha. De resto, tire tudo. Até os olhos verdes e belos.
Quanto aos meus pertences, depois de alguns anos (porque vai doer demais mexer nas minhas coisas antes de anos e anos), podem dar tudo embora. Ou abrir um museu em minha homenagem porque mesmo me restando pouco tempo de vida, eu ainda vou me tornar um ícone intelectual contemporâneo. Meu sonho é que tombem meu quarto como patrimônio histórico da humanidade. Não por nada não, é que eu acho tombar o termo mais babaca e daora ao mesmo tempo que existe. Porque quando tombam alguma coisa eu fatalmente imagino um trator com aquela bola de ferro DEMOLINDO o lugar. E é exatamente o contrário. Babaca e daora, I tell you.
Ah sim, podem batizar um navio da Royal com o meu nome também. Natália of the Seas. Ou pode ser da Ibero mesmo: Grand Natália. Pra fazerem a piadinha graaaaaaaaand natália, é isso aí! Que nem eu fazia com o graaaaaaaaaand celebration, amigão!

Então é isso, acho que vocês estão bem instruídos caso eu morra. Vocês já sabem que eu já sabia e já sabem que é pra chorar sim. E não OUSEM levar esse texto para que todos riam entre lágrimas. É pra chorar. Que nem eu choraria se fosse cada fucking um de vocês, seus lindo.