Umbanda e a Coxinha

Era uma vez Deus. Só que todo mundo chamava Ele de Olorum. Então era uma vez Olorum, que fez o mundo e baseou a coisa toda da vida em sete coisos: a Fé, o Amor, a Lei, a Justiça, o Conhecimento, a Evolução e a Geração. E deu cada um dos coisos pra dois Orixás (que é o que o Francisco chama de Santo) cuidarem. Assim é a Direita. A Esquerda é o outro lado, que completa a Direita. Não é o mal, é a Esquerda. É onde mora o Exú e a Pombogira. É o outro, que faz parte do todo, mas que não é ruim. E que não precisa ter medo, seus besta.
No Centro a gente se reúne para cantar e praticar a caridade. A gente desenvolve a mediunidade pra ajudar as pessoas. Não tem nenhum outro porquê das pessoas fazerem isso, pense bem. Só que para ajudar a gente tem que estar bem. Então as vezes a gente passa muito tempo tentando ficar bem pra poder ajudar. E ajudar faz bem também, daí vira uma bola de neve com cobertura de chocolate. 



Quando eu chego lá eu chego brava. Parece loucura mas minutos antes de chegar no Centro eu tô sempre brava. Com alguém, com alguma coisa. E eu tenho sempre razão absoluta em estar brava e não sei como pode o mundo continuar rodando sendo que eu estou tão brava. Aí o primeiro tum tum do atabaque já me faz parar e pensar: brava com o quê, menina? Cada verso dos pontos (que é como macumbeiro chama música gospel) parece falar diretamente comigo e eu só dou uma risadinha de quem pensa caraca, como eu sou tonta. Aí fica tudo bem. Tudo que eu levo pro Centro fica bem. Comecei levando doença e ficou tudo bem. Daí levei doença dos outros, aflições, medos e dúvidas. E ficou tudo bem.
Não quero nada com esse texto, não quero converter suas cabeças e levar todo mundo pra macumba (que é o nome de um instrumento de percussão, aliás, e não ofende nem um pouco :D). Só escrevi mesmo pra ver se passa essa vontade de comer coxinha...