el miedo
Na real? Eu me pelo de medo de ficar aqui. De não servir pra mais nada, de não conseguir nada. E de morrer de tédio e solidão também, vintecincodejulho do caralho. Tenho medo do tempo passando e eu não sendo nada, continuando sendo nada. Medo de me deprimir aqui, de ser uma pessoa incompleta e conformada.
E não entra na minha cabeça que eu tenho que fazer ou deixar de fazer uma coisa porque sim e pronto, acabou. Eu tenho que trabalhar fixo em uma empresa boa. Porque sim. E logo. É isso que vaza do meu conceito, sabe? Não é uma Lei.
Entendo que uma vida de viagens e sem nenhuma segurança é complicada. Não quero perder o nascimento dos meus sobrinhos, o casamento dos meus primos, nada disso. Eu quero presenciar a vida também, tanto quanto vocês querem que eu presencie. Só não quero parar agora. É simples, eu não quero. E me recuso a acreditar que eu devo tomar uma decisão que eu não quero tomar. Não quero.
Eu consigo me ver feliz no futuro aqui, trabalhando de segunda à sexta, com um carro, um apartamento, um namorado e essas coisas de gente normal. Babo de vontade disso e sei que a gente precisa começar alguma hora pra ter isso tudo né? Ao mesmo tempo, se você me pedir pra eu pensar na época mais feliz da minha vida, eu penso nos oito meses no mar. Os quatro primeiros e os últimos quatro. E não tenho memória mais saudável que essa. Não tem uma época que eu tô mais feliz, magra, bronzeada, bem comida, viajada, interessante que essas. E o medo de não me sentir tão feliz assim em outro lugar, fora do mar? O que eu faço com a vontade de conhecer o mundo inteiro hoje? O que que eu faço com a insegurança, a saudade? O que eu faço com o medo?