Pombas
Há muito tempo atrás, quando eu era apenas uma criança com leves distúrbios psicológicos (que teriam sido descobertos e tratados, tivesse minha mãe buscado o resultado do meu exame de pézinho. beijão, mami!), eu estava aqui mesmo, nesta mesma cadeira neste mesmo quarto, fazendo qualquer coisa em um outro computador. Foi quando eu ouvi um barulho que parecia vir de dentro da minha cabeça. Acontece. Continuei jogando Lemmings. Mas o barulho foi ficando mais constante, mais alto e mais perturbador. Comecei a ficar com medo e também a achar que não vinha de dentro, vinha de fora. De fora do quarto. Da janela.
Minha casa faz parte da Fundação Imóvel Amigo do Inverno e aqui quase não bate sol. Principalmente no meu quarto, cuja janela é voltada para o lado, para o telhado da vizinha. É um frio cretino e um excesso de intimidade com a família ao lado: que eu ouço desde o acordar até o dormir, passando pelas brigas e pelos fazer cocô. Enfim, a janela. Voltando.
Abri, naquele dia em que eu era uma criança, minha janela para procurar a fonte do barulho e vi, bem em cima do telhado da vizinha, um casal de pombas. Ques linda. Fazendo aquele barulhinho de pomba. Que irrita. Portanto, mais que prontamente, peguei minha ARMA DE TAZO e comecei a atirar nas pombas pra que elas saíssem de lá. Entendam, não foi um ato de violência, eu num atirei com a intenção de matar, só de espantar.
As pombas voaram para outro telhado longínquo.
E foram felizes para sempre.
Mas hoje eu ouvi um barulho...